Muito do que absorvemos de uma obra de arte depende do quanto estamos dispostos a receber. Além disso, o preparo com que nos pré dispomos a analisá-la depende também dos conceitos de beleza, estética, entre tantos outros que construímos sem perceber. Como um golpe de sutileza, o novo filme de Joe Wright é um abalo de estruturas e uma verdadeira quebra de grande parte destes conceitos e paradigmas: “O Solista” (The Soloist, 2009) flui sonora e visualmente, deixando surpresas de lado e trabalhando com sentimentos.
O jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.), durante uma fase de crise profissional e pessoal, conhece Nathaniel Anthony Ayres Jr. (Jamie Foxx), um músico de rua, que o faz abrir os olhos para a sua carreira e para a amizade. Nathaniel era um jovem promissor e estudante de uma grande escola de música quando os primeiros sinais da esquizofrenia começaram a lhe incomodar e a atrapalhar seus estudos. Após romper com sua irmã e abandonar o apartamento onde morava, escolhe a vida livre das ruas e a companhia de um violino de duas cordas. Sua relação com as ruas é uma metáfora à parte, deixando subtendida sua agonia de estar preso a uma doença que lhe tirou seus maiores sonhos.
Jamie Foxx revela mais uma vez sua afinidade com papéis musicais (estrelou também “Ray”, sobre a vida do pianista e cantor Ray Charles) e sua interpretação transcende a barreira do profissionalismo: a partir do momento em que as mãos de seu personagem encontram o arco de um violoncelo pela primeira vez após muito tempo, seus olhos se fecham, a trilha sonora toma conta da sequencia e o conjunto técnico do filme se torna irrelevante frente a beleza e a carga emocional transmitidos com alma. Ao mesmo tempo, a interpretação de Downey Jr., misturando perplexidade, encanto e admiração, completa a cena mais emocionante do filme.
A amizade que nasce entre os dois, permeada pela música clássica, é tratada como um agente transformador para ambos os lados. Uma vez que Lopez deixa de ver Ayres como mais uma pauta para sua coluna, e Ayres começa a vencer seus medos com a ajuda do novo amigo, a narrativa convida o espectador a se envolver e se apaixonar por cada nota tocada e cada expressão destes dois grandes atores.

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