sábado, 28 de novembro de 2009

Último Solo de Clarineta

Foi com grande pesar que o Brasil perdeu, há 34 anos atrás, um dos maiores nomes da sua literatura. Destaque da geração modernista, Erico Lopes Verissimo nasceu em 1905 na cidade de Cruz Alta, Rio Grande do Sul. Sobre seu nascimento, explicou com certo humor em suas memórias que o fórceps que ajudou em seu parto lhe deixou, além de uma marca física (uma cicatriz perto do olho), um traço psicológico delineado pela claustrofobia que o acompanhou durante toda a vida. Apesar disso, a liberdade com que escreveu durante quase 70 anos de existência sempre será a marca da sua personalidade literária para o mundo.

erico-verissimo
Incondicional amante dos livros, mantinha uma relação mais íntima com o mundo da imaginação do que com a realidade, característica que lhe inspirou histórias como “O Tempo E O Vento”. A trilogia, aclamada como uma das maiores obras primas da literatura brasileira, possui um traço épico e narra sua história ambientada na fictícia Santa Fé. Parte da segunda fase modernista, com ênfase no resgate regionalista, é difícil desvincular o conteúdo da obra de uma análise profunda do homem gaúcho e do estado do Rio Grande do Sul.
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Aos 30 anos nunca tinha visto mar. A vista o decepcionou primeiramente quando, em visita ao Rio de Janeiro, veio a conhecer não só o grande azul do oceano como também os grandes Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego e Graciliano Ramos. Em relação ao mar, Verissimo destacou: “Sua cor me decepcionou. [...] Um violeta desmaiado e opaco.” Via-se maduro o eu-lírico do homem que, em busca do mar, encontrou apenas um desejo satisfeito.
Quando pequeno, ao segurar lâmpadas para as cirurgias feitas na farmácia do pai, mal sabia que continuaria a clarear caminhos. Com “O Tempo e o Vento”, “Incidente em Antares” e “Solo de Clarineta” o escritor encerrou uma carreira que foi construída para o iluminar o mundo com palavras e romances.
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