Indiscutivelmente, o Gato de Botas é um dos
personagens mais queridos da franquia “Shrek”. Talvez até mais do que o próprio
Shrek, tava na hora do gatinho sair da sombra do ogro e ganhar seu próprio
filme de origem. É isso que acontece com “Gato de Botas”. Que, além de jogar
uma luz no passado do amante peludo, tenta revitalizar esta longa linha de
animações da Dreamworks.
O mais importante que deve ser dito sobre “O
Gato de Botas” é que ele não é “Shrek”. Trata-se de um novo universo. A terra
idílica de Tão Tão Distante é deixada pra trás em favor de um ambiente laranja,
árido, e mais latino. Não é o cenário que dá a diferença, ele é só conseqüência
dela. A verdadeira diferença está em toda a atmosfera. Embora ainda seja leve,
afinal, é um filme infantil, dessa vez ele possui entonações mais sombrias.
O que também é uma exigência da história que trata de temas mais sérios como redenção e vingança. Nela, o gatuno vive uma vida à margem da sociedade quando descobre na galinha dos ovos de ouro uma chance de corrigir seus erros e, assim, voltar a ser adorado. Ela é muito complexa, uma pena que não tem muita força, a maior parte do tempo você sente como se tivesse indo com o fluxo. O pastiche de fábulas ainda é a regra, mas dessa vez ele serve mais como pano de fundo para esses assuntos.
Com tantas fábulas já exploradas pelo ogro
verde fica difícil achar novos contos-de-fada para explorar. “Gato de Botas” traz
uma versão troglodita dos personagens da rima popular inglesa “Jack e Jill”
além do ovo-em-cima-do-muro Humpty Dumpty. Dois folclores relativamente
desconhecidos na cultura brasileira poderiam atrapalhar a apreciação do filme.
Felizmente suas histórias não possuem relevância na trama e é fácil pegar suas
motivações. O conto-de-fada que mais tem importância na história é o do “João e
o Pé de Feijão”, que ainda assim recebeu suas certas doses de liberdade
artística. Ao contrário do que muitos pensam, a fábula francesa de “O Gato de
Botas” não aparece nesse filme.
Além das referências aos contos de fada, referências
a cultura pop também fazem a festa nessa franquia. Elas ainda estão aí, embora
não tão escrachadas como em Shrek. A diferença é que elas procuram fazer
homenagem a outro tipo de cultura, nesse filme você vai ver algo muito mais
perto de Roberto Rodrigues do que algo mainstream.
O humor também se baseia em referências, dessa vez ele foi diminuído para
deixar mais espaço para a ação. Ainda assim, sobram algumas piadinhas, embora
poucas legitimamente engraçadas, mas, a essa altura, o humor do Shrek já perdeu
a graça.
Na área da animação é que o filme realmente
brilha. Os efeitos de luzes e o colorido que ocupa a tela são a maior aposta
para prender seus olhos na tela, além de combinarem perfeitamente com a
estética fantástica. O 3D também mostra o quanto ele caminhou desde “Avatar”,
você vai acreditar, nem que por um milésimo de segundo, que leite está caindo
em cima de você. Até os pêlos do elenco felino receberam um carinho especial. A
dublagem (pelo menos a do elenco original) brilha de início ao fim. Zack Galifianakis continua
irritante como sempre, e Antonio Bandeiras será sempre El Mariachi em qualquer pele que ele
habitar.
Embora o Gato ainda tenha muitas coisas a
melhorar, esse foi um bom começo para a sua saga. São as inovações que ele
trouxe representam os melhores coisas do filme. Ainda falta a renovação do
gênero, mas todas as coisas essências encontram-se aí. Vamos esperar que esse
gato tenha mais do que uma vida para gastar no cinema.
