Quatro anos após a estreia de "Jogo de Cena", longa-metragem de Eduardo Coutinho que explora a relação entre ficção e realidade intercalando depoimentos reais com a interpretação impecável de atrizes como Marília Pêra e Fernanda Torres, estreia o novo filme do diretor. Mesmo que assinasse As Canções (Brasil, 2011) sob um pseudônimo, Coutinho não conseguiria escapar da autoria – o filme é a cara dele.

Composto por 18 histórias reais de pessoas reais, ele não conta história alguma. Não fosse um filme de Coutinho, esta frase seria pejorativa. Conhecido pela escolha recorrente do comportamento humano como objeto de estudo em seus trabalhos, o diretor nos contamina com sua curiosidade pelos personagens. Ao colocar-se na posição de ator, segundo disse à Revista Bravo! deste mês, ele cativa a confiança dos entrevistados e consegue depoimentos verdadeiros, genuínos, capazes de emocionar o público quando menos se espera. Quando você se dá conta, já está rindo ou chorando, embalado pelas músicas em capela.

As semelhanças com Jogo de Cena não são poucas, a ponto de causar estranhamento, por exemplo, pela ausência de certa personagem emocionada com a história de Procurando Nemo. A escolha dos entrevistados, em ambos os casos, foi bastante semelhante. No filme de 2007, um anúncio publicado em jornal convidava as pessoas a participar; neste, os dizeres “Se você tem uma música que mudou sua vida, cante e conte sua história” chamaram a atenção das quase 250 pessoas que responderam à convocação.
Com uma produção que durou pouco mais de quatro meses, das pesquisas iniciais à finalização, As Canções conversa com Jogo de Cena até mesmo no cenário. Como se mantivesse a câmera no mesmo lugar e girasse 180 graus no próprio eixo, a cortina escura, pano de fundo do novo filme, parece fazer parte do mesmo ambiente usado nas filmagens do documentário de 2007. Uma continuação da temática, talvez, carregado do olhar observador do diretor, assim como na maioria de seus filmes. Embora não seja o melhor da sua filmografia, com certeza vale a pena assistir.
