segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"Cabeça"

O Brasil encerrou sua participação nos Jogos Olímpicos de Pequim. Destaque para um duelo à parte nestes últimos dias olímpicos. Os fatos dizem tudo, portanto, vamos a eles:



Queda na grama:

A tão esperada medalha dourada brasileira, inédita no futebol olímpico, continuará inédita, pelo menos, por mais quatro anos.

Mesmo apresentando um futebol mais vistoso, durante os 120 minutos de jogo, não foi suficiente para a seleção feminina vencer as americanas em mais uma final olímpica. A seleção americana venceu pelo placar de 1 a 0, gol de Lloyd, aos seis minutos da prorrogação.

Mas o que faltou às brasileiras? Preparo físico? As americanas visivelmente sobravam na parte física conforme a partida se aproximava do fim. Talvez tenha faltado sorte? Justificar um resultado dessa maneira apontaria falha na competência. Então, seria o lado psicológico das jogadoras? Segunda final olímpica perdida para o mesmo adversário; o futebol apresentado durante a competição sumiu no jogo derradeiro; jogadoras correndo por todo o campo sem saber dosar sua energia. Enfim, tudo leva a crer que faltou "cabeça".
Mas, diferentemente do masculino, as meninas mostraram empenho, dedicação, raça, técnica... O "conjunto da obra" apresentado pelos homens saiu da China sob vaias, enquanto o das mulheres, sob aplausos. É a medalha de prata mais dourada do Brasil.

E Marta, sem dúvidas, é a melhor jogadora do mundo.

P.S.: Só para constar, a seleção masculina de futebol conquistou o bronze ao derrotar a Bélgica por 3 a 0.



Na areia também:

Ricardo e Emanuel conquistaram a medalha de prata ao derrotarem a dupla da Geórgia Renatão e Jorge. Mas todas as atenções estavam voltadas para a partida final. A dupla surpresa no vôlei de praia, formada por Fábio e Márcio, encararam os americanos Rogers e Dalhausser.


Num primeiro set bem disputado, os americanos venceram pela diferença mínima de pontos, fechando por 23 a 21. A reação veio no segundo set, jogando muito bem, a vitória dos brasileiros veio por 21 a 17. Porém, no tie-break, a dupla americana atropelou a brasileira, visivelmente nervosa, com parcial de 15 a 4. De novo pesou a "cabeça" na hora decisiva. Mas a medalha de prata é motivo de comemoração para uma dupla que chegou desacreditada a Pequim.


E por último, na quadra:

Os brasileiros entraram com vontade para cima da seleção americana de vôlei. Alguns admitiram ter torcido para os EUA contra a Rússia na semi-final olímpica, para poderem se vingar da derrota na final da Liga Mundial. E nesse ritmo, o Brasil venceu o primeiro set com parcial de 25-20. Jogando bem, com fundamentos como passe e bloqueio funcionando, e os jogadores conseguindo impor suas habilidades, a história de Atenas parecia se repetir: O ouro era questão de tempo.
Mas, a partir do segundo set, o jogo foi outro. Os americanos simplesmente tomaram conta da partida. Destaque para Stanley, que com seus saques, desestruturou qualquer tática brasileira. Vitória americana no segundo set por 25-22. Estava empatada a final. E, infelizmente para nós, a história se repetiu no terceiro set, com parcial de 25-21. Restava ao Brasil jogar tudo o que poderia no quarto set, para levar a decisão para o tie-break. E os jogadores brasileiros se esforçaram. Marcelinho, Serginho, Giba, Gustavo etc. Todos foram guerreiros, mas, a seleção dos EUA, não tomando ciência disso, fechou a partida com 25-23. Os americanos aparentam ser aquele adversário que primeiro apanha, assim aprendem todas as características do golpe, e em seguida, armam-se de forma a não sofrer o mesmo dano, podendo desferir seus ataques. McCutcheon, técnico da seleção americana masculina de vôlei, admitiu estudar o vôlei brasileiro por quatro anos. A tal da "cabeça" aqui foi tática, e não psicológica. Deu resultado: Fim da hegemonia brasileira. Marcelinho jogou muito bem as Olimpíadas, assim como a Liga Mundial e outras competições anteriores, desde a polêmica saída do levantador Ricardinho do time. Foi inevitável lembrá-lo, mas é impossível dizer que se ele estivesse na quadra, a história seria favorável ao Brasil. Nosso vôlei vai passar por uma renovação, pois alguns jogadores estão se aposentando com a camisa amarela, caso do meio-de-rede Gustavo. E nessa renovação, Ricardinho deveria voltar ao time. Não se pode deixar questões pessoais afastarem um profissional de seu trabalho, principalmente de defender a sua pátria. Ricardinho é gênio na quadra, e lugar de gênio é no time.


Demos graças à exceção:
Nesse intenso duelo contra os EUA, na reta final olímpica, pelo menos ganhamos uma disputa. Refiro-me ao vôlei feminino. As brasileiras, que até então nunca haviam chegado numa final de Olimpíadas, trouxeram a medalha de ouro inédita do esporte feminino ao país.
E não podia ser diferente. A campanha de nossas meninas era digna de contemplação para qualquer um. Chegar numa final sem perder um set sequer, já era o suficiente para abalar a "cabeça" das americanas antes da partida. E isso ficou evidente com o atropelamento imediato. Parcial de 25-15 para o Brasil no primeiro set.

Novamente, o seguinte pensamento surgiu: O ouro era questão de tempo. Porém, pensar dessa maneira deve enfurecer qualquer americano. No segundo set, elas conseguiram se impor diante das brasileiras e venceram o segundo set por 25-18. Um susto. Seria a "cabeça" das nossas jogadoras forte o suficiente para superar esse susto? Não deu tempo para pensar numa resposta. Aliás, a resposta foi dada com outro atropelamento. Brasil 25-13 EUA.
As americanas tentaram se impor novamente no quarto set, mas ninguém tirava mais o ouro dessas meninas. As brasileiras fecharam o jogo e o set com a parcial de 25-21, consagrando-se campeãs olímpicas inéditas. Na despedida da levantadora Fofão, ficou gravada em Pequim a excelente campanha proporcionada por Fabi, Paula Pequeno, Mari, Sheilla, Fabiana, Walewska etc. As americanas deveriam comemorar, além da medalha de prata, a façanha de vencerem um set dessa fantástica seleção feminina brasileira.

E José Roberto Guimarães se consagra como o único técnico a ser campeão olímpico, tanto no vôlei masculino quanto no feminino.

P.S.: Mas, no duelo à parte, ficou Eua 3 X 1 Brasil.



Centímetro dourado:
Maurren Maggi conquistou um feito histórico. Além de trazer mais uma medalha de ouro inédita para o país, a atleta sagrou-se a primeira brasileira a ser campeã em esportes individuais.

Maurren correu 22 passos e saltou 7,04 metros. Mas, a campeã da última edição olímpica ainda podia estragar a festa. Lebedeva então preparou, correu e saltou. Expectativa enorme no estádio. Veio a confirmação do salto da russa: 7,03 metros.

Um centímetro foi a diferença. Pequenas coisas, chamadas de detalhes, fazem toda a diferença.
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