Entra em cartaz hoje o esperado novo trabalho de Martin Scorsese, “Ilha do Medo”, que mais uma vez traz uma parceria do diretor com Leonardo DiCaprio e com muitos técnicos que já haviam trabalhado com ele anteriormente. E o roteiro é baseado no livro Paciente 67, de Dennis Lehane, autor dos já adaptados Sobre Meninos e Lobos, que deu origem ao filme homônimo de Clint Eastwood, e Gone, Baby, Gone, que virou Medo da Verdade, dirigido por Ben Affleck. Como era de se esperar, é um filme extremamente bem construído, mas causa certo desapontamento.

A trama acompanha uma investigação conduzida pelo detetive Teddy Daniels (DiCaprio) e por seu novo parceiro, Chuck Aule (Mark Ruffalo), em uma penitenciária psiquiátrica de segurança máxima, após o misterioso desaparecimento de uma detenta que estava trancafiada em sua cela. Durante os trabalhos, a convivência com os “loucos” faz com que os maiores medos do detetive aflorem e, com isso, ele começa a sofrer algumas alucinações, criando a desconfiança de que o psiquiatra responsável pelo local, Dr. Cawley (Ben Kingsley) seja o responsável pelas crises em sua sanidade.

Scorsese constroi uma narrativa típica de um bom thriller psicológico, com uma estética nitidamente inspirada nos filmes noir da década de 1950, época em que se passa o filme. No entanto, desde o começo ele nos dá pequenos sinais do que pode vir a ser o desfecho do filme, nos fazendo sentir que não se trata de mais uma obra-prima com o carimbo de Marty, mas sim um outro filme estranho do indiano M. Night Shyamalan. Para completar, todos esses elementos só conseguem captar verdadeiramente a atenção do espectador quando o filme se aproxima de sua primeira hora, principalmente porque nesse ponto já estamos em uma silenciosa e desesperada torcida para que tenhamos errado todas as pistas e imploramos por um final surpreendente. E não somos atendidos, ao menos não completamente, já que a cena derradeira se inicia de um modo incrivelmente previsível mas consegue, em seus últimos instantes, fazer uma pequena curva.

Certamente o grande problema do filme não está na tela, mas sim na expectativa que Scorsese sempre causa. Suas qualidades mais típicas também estão impressas nesse filme, e é nítido o bom trabalho na direção. Os atores também estão muito bem, com a exceção de Mark Ruffalo, que esqueceu de desligar o botão “comédia romântica” e passa boa parte do tempo repetindo as caras usadas em De Repente 30 e E Se Fosse Verdade…. Talvez o defeito tenha sido do roteiro, adaptado pela não-tão-experiente Laeta Kalogridis, a mesma de Alexandre e Guardiões da Noite.
Ao menos o filme cumpre seu objetivo principal: garante uma dose de divertimento durante umas horas. E não chega a não valer o ingresso.
