Preparando para a estréia do longa “Os 3”, o Lixeira Dourada deixa você degustar um pouco mais da série de entrevistas exclusivas com a equipe do filme. Na segunda publicação, você confere a conversa com o sempre descontraído e animado diretor e roteirista Nando Olival.
Entre o Cinema e a Publicidade
Consagrado por centenas de filmes publicitários, Nando se aventura apenas pela segunda vez no cinema de longa metragem em “Os 3”, que marca seu primeiro trabalho solo na categoria. Co-diretor de “Domésticas” ao lado de Fernando Meirelles e responsável pelo badalado curta publicitário “Eduardo e Mônica”, Nando tem uma carreira vasta que nem sempre enalteceu seu nome ao grande público, algo que parece não importar tanto para ele.
“No cinema você vai ser para sempre ‘aquele cara que fez aquele negócio lá’, enquanto na publicidade eu posso fazer algo terrível ou maravilhoso que dá e passa. São questões que, para a minha profissão, podem fazer uma grande diferença, mas para mim, efetivamente, depois de 20 anos de carreira, tanto faz”, decreta.
Dentre as opções, Nando acredita que sua atuação como cineasta ou diretor de filmes publicitários vai ser determinada pela própria aceitação do trabalho. “Se não conseguir convencer a ponto de emplacar um filme por ano ou uma série de TV, eu fico tranquilamente na publicidade. Não vou deixar de fazer um pelo outro, mas se eu conseguir filmar bastante com cinema, devo ficar só nisso. Se não, volto para a publicidade para não sair do set.”
Para o diretor, sua felicidade independe de área. “O que eu gosto de fazer é filmar! Mexer com a câmera, cuidar da luz, falar com ator, com a equipe...” Ele chegou a especular que se não fosse diretor, mas atuasse em qualquer outra função no set, conseguiria ser feliz apenas pelo convívio com o ambiente. “Isso é a minha vida! Então, sob esse aspecto não muda nada da publicidade para o cinema, o set é o mesmo. O que talvez faça uma tremenda diferença é o tamanho da duração, esse negócio de que mensagem o filme vai carregar, de como vai chegar no filme, se vai ter censura... A gente tenta não pensar nisso, mas é impossível”, explica.
Juventude de Autor e Obra
Segundo ele, “Os 3” não tem nenhum tipo de julgamento, mensagem ou crítica, mas é formado por uma série de pequenas observações que falam sobre a preservação das pessoas, com o plano de fundo da exposição. “Olha, você está sendo visto e está, eventualmente, criando um personagem para preservar o que você é de verdade e depois outro para tentar justificar o primeiro... Mas é bom tomar cuidado com até onde isso pode levar.”
Segundo ele, “Os 3” não tem nenhum tipo de julgamento, mensagem ou crítica, mas é formado por uma série de pequenas observações que falam sobre a preservação das pessoas, com o plano de fundo da exposição. “Olha, você está sendo visto e está, eventualmente, criando um personagem para preservar o que você é de verdade e depois outro para tentar justificar o primeiro... Mas é bom tomar cuidado com até onde isso pode levar.”

Apesar de ser o único diretor no comando do filme, Nando afirma que nunca trabalha completamente sozinho. “No ‘Domésticas’ eu tinha uma proximidade muito grande com outro diretor. Dessa vez eu estou na frente, mas quando eu escolho alguém para trabalhar para mim é porque acho que é um puta profissional e não vou deixar de ouvir por nada. Eu estou dirigindo a combe, mas a galera lá atrás é que fala ‘segura o pé aí’ ou ‘não vai para a esquerda não, pega a direita!`” Mesmo assim, Nando confessa que nutre um enorme respeito pelo seu companheiro de diversos trabalhos, Fernando Meireles, que foi o primeiro a ver o corte final de “Os 3”. “Depois que ele fala que achou bom é que eu acredito, e aí opinião nenhuma me faz parar”, diz com carinho.
O diretor conta que, desde o início, quando o longa ainda era chamado de “Ela, Ele e Eu”, a idéia era fazer um filme essencialmente sobre a juventude e não isenta a influência de suas próprias vivências na obra. “Não era para ter as gírias da juventude atual, nem a música atual, mas deveria ser o retrato de um pouco do que todo mundo passou na juventude. Acho que meu bisavô passou por isso, meu pai passou por isso, eu e agora os meus filhos. É um pouco essa confusão de sentimentos. Essa hora em que você não sabe ao certo se esse grupo com que você convive partilha de um tremendo amor, amizade ou tesão. E eu acho que isso não só transpõe gerações como culturas.”
Ele revela que também já se apaixonou diversas vezes pela “pessoa errada”, e inclusive por namoradas de amigos, antes, durante e depois da faculdade. “Hoje em dia, graças a Deus isso não acontece mais comigo!”, brinca.
Durante os testes de elenco, Nando conheceu diversas histórias onde notou o quanto o roteiro penetrava na realidade. “Eu acho que ator sempre fala isso, né? Essa coisa de ‘poxa, esse papel tem tudo a ver comigo’[zomba de leve], mas eu senti realmente sinceridade de muitos que falavam: cara, quando eu vim para São Paulo aconteceu e-x-a-t-a-m-e-n-t-e isso comigo. E eu acho que todo mundo já passou por algo assim, bicho. Apesar do filme não ser uma biografia ficcional, quando eu saí da casa dos meus pais, eu também tive isso aí. Essa coisa de morar com amigos e com amigas...”
Para o diretor, o filme encontra muito de sua essência no “ritual de passagem para a vida responsável”, quando a pessoa começa a viver por conta própria, conviver com suas próprias atitudes e ter que se virar. “A partir de agora, bicho, sempre que você falar ‘eu te amo’ ou ‘eu te odeio’, vai ter consequências. A partir de agora você preste a atenção! Se for brincar e falar ‘ahh, eu te amo’ pa-pa-pa-pa... Você pode estar ffh... com a outra pessoa e até consigo mesmo. É a hora que a gente começa a entender que a vida tem que ter um pouco mais de tato”, comenta sem pudor nem contração.