
Benjamim Zambraia é um modelo fotográfico decadente. Em sua juventude, fotografava com lindas mulheres, em lindos cenários do Rio de Janeiro nos anos 60. Com o passar do tempo, mais velho e esquecido, se surpreende com um rosto aparentemente familiar: Ariela Masé, com as feições e a beleza de um amor do passado, Castana Beatriz. A história do filme “Benjamim”, de Monique Gardemberg, poderia ser apenas mais uma se não tivesse como base a literatura de Chico Buarque, pré requisito para uma análise um pouco mais complicada.

No passado, o ator Danton Mello representa Paulo José, o que gera um pequeno incômodo: Danton não consegue acompanhar o personagem com a mesma maestria que Paulo. Uma comparação inevitável acontece entre as cenas de choro dos dois atores: Paulo, com a foto de Castana nas mãos, após ver Ariela pela primeira vez, e Danton, frente ao espelho, após perder Castana. Uma clara dicotomia entre o belo e o ridículo. Por outro lado, Cléo Pires, como Ariela e Castana, surpreende principalmente pela sua admirável atuação de estreia no cinema.
A narrativa divide-se em dois momentos: o passado e o presente. Nessa estrutura não-linear, o que deixa o espectador perdido é alguma falha (proposital?) na cadência do filme. Alguns pontos mal amarrados acabam deixando a história recortada e o público (que não leu o livro) um pouco perdido, em um vai e vêm que deveria ser sutil, ou apenas percebido pela diferença na fotografia. Em geral, a dificuldade de se adaptar a literatura para o cinema está principalmente na dose de subjetividade que se dá à obra: quando demais, salta aos olhos a presença das entrelinhas, e as interpretações difusas não alcançam a ideia central; quando de menos, o público recebe (e percebe) um roteiro mastigado e cansativo. Neste caso, ficamos com a primeira opção.
