Está nos cinemas o novo trabalho de Heitor Dhalia (de O Cheiro do Ralo). “À Deriva” foi exibido no último Festiva de Cannes, arrancando elogios de grande parte da crítica internacional, e comentários não tão favoráveis dos “especialistas” brasileiros. De fato, não é um filme fácil de agradar ao público daqui: não fala de favela, de violência, de samba nem de futebol. Conta apenas a história de uma família e dos que se relacionam com eles, sem defender um ponto de vista. É simplesmente a história de alguns seres humanos insatisfeitos com suas vidas vazias, e de como eles conseguem (ou não) lidar com isso. Uma bela trama, um pouco lenta, é verdade, mas com uma técnica quase perfeita. Praticamente um filme francês.

Aliás, um dos méritos do filme é o fantástico ator francês Vincent Cassel (de Irreversível e Doze Homens e Outro Segredo), que interpreta o patriarca infiel Matias. Clarice, a esposa infeliz, é vivida por Debora Bloch, certamente em um dos momentos mais inspirados de sua carreira. Há também as participações da atriz americana Camilla Belle (de 10.000 AC), e dos brasileiros Cauã Reymond e Gregório Duvivier. Os três filhos do casal são interpretados por “não-atores” até então desconhecidos.
Boa parte da trama é contada através das descobertas da filha mais velha, Filipa, interpretada pela bela Laura Neiva. Com o florescimento da sexualidade, ela se envolve em um curto relacionamento com um colega de praia, mas toda sua vida muda ao descobrir o caso do pai com Ângela (Camilla Belle), criando tramas que chegam a inspirar um certo suspense. E tudo acontece nas ruas e nas águas da paradisíaca Armação dos Búzios, uma península na Região dos Lagos do Rio de Janeiro que, há alguns anos, foi eleita pela musa francesa Brigitte Bardot como a cidade mais linda do mundo, e com toda a razão, diga-se de passagem.

Apesar de não ser exatamente um filme feito para o público brasileiro, “À Deriva” pode agradar a muita gente, principalmente aos adoradores do cinema clássico europeu. É provável que o fato de um filme tão artístico estar sendo exibido no grande circuito seja mérito da O2 Filmes e de Fernando Meirelles, que produziu o longa, e resta a nós torcer que também esse tipo de trama possa não só dar lucro às produtoras cinematográficas, mas também mostrar aos estrangeiros que sabemos mudar de assunto sem perder o fio da meada.

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