quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Mal Eleito

Semanas após a largada da corrida eleitoral a que somos submetidos, e às vésperas da estreia do Horário Eleitoral Gratuito, entra em cartaz amanhã O Bem Amado, novo filme de Guel Arraes, diretor de grandes sucessos como "O Auto da Compadecia" e "Lisbela e o Prisioneiro". Com ótimo roteiro e grande elenco, o filme é garantia de diversão pra sua mãe e pra sua vó. E você não vai se arrepender de acompanhá-las ao cinema.


O filme conta a "saga" de Odorico Paraguaçú (Marco Nanini), prefeito da cidade fictícia de Sucupira, recém-eleito após o assassinato do prefeito anterior pelo matador-jagunço-cangaceiro Zeca Diabo (José Wilker). A principal promessa de campanha dele é a construção de um cemitério municipal para que os mortos da cidade possam gozar do descanso eterno em sua terra-natal, cujo cumprimento leva à contratação de Chico Moleza (Edmilson Barros) como coveiro. A obra, superfaturada, mostra-se completamente inútil, uma vez que não há sequer uma morte na cidade nos primeiros anos de governo de Odorico, atiçando os comentários da oposição, representada por Vladimir (Tonico Pereira), dono do jornal A Trombeta, e Neco (Caio Blat), único jornalista da cidade, opositor ferrenho do prefeito, e namorado de Violeta Paraguaçu (Maria Flor), a fogosa filha do prefeito.


Ao lado dele, estão as fogosas irmãs Cajazeiras, vividas por Zezé Polessa, Andréa Beltrão e Drica Moraes, que "jogam" entre si para ver qual delas conquistará definitivamente o coração do prefeito, que as enrola magistralmente e não se envolve profundamente com nenhuma. Durante o desespero por um defunto, as irmãs sugerem a Odorico que "importe" da Capital um primo delas (Bruno Garcia), moribundo em estado terminal. Como o plano não dá certo, o prefeito manda que seu chefe de gabinete, o frouxo Dirceu Borboleta (Matheus Nachtergaele) encontre Zeca Diabo e o contrate como Delegado da cidade. E assim as confusões só aumentam até que, finalmente, o cemitério é inaugurado por Odorico.


A essa altura, os que têm mais de trinta já devem ter percebido que se trata de uma adpatação da telenovela escrita por Dias Gomes em 1973, que foi a primeira novela brasileira a ser transmitida a cores, na Rede Globo, e cuja história também rendeu seriado, peças, livros e, agora, o filme.

Guel Arraes com Marco Nanini no set.
Apesar da enorme quantidade de atores fantásticos, O Bem Amado é sustentado de ponta a ponta pela presença de Marco Nanini e José Wilker na tela, que dão um show de atuação não só a cada diálogo, mas também a cada pausa. A trilha sonora deliciosamente irônica de Caetano Veloso dá um charme especial ao filme e ajuda a compor a metáfora maior que não só engloba o filme, como também o encerra em uma singela animação gráfica que explica o óbvio aos mais desligados: Sucupira = Brasil. Como eu disse antes, diversão garantida para toda a família. Sua mãe vai rir com os atores, sua avó vai lembrar da novela e seu irmãozinho vai ter uma aula leve sobre a realidade política brasileira. E em ano de eleição, o filme poderia ao menos incentivar o povo a votar direito. Mas isso já deve ser pedir demais...

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