Pasmem! Após quase 3 anos de imbróglios, finalmente podemos conferir "À Prova de Morte" numa sala comercial de cinema. O vai-e-vem das distribuidoras cedeu, enfim, ao apelo dos fãs - ansiosos por um ingresso do (novo?) filme de Quentin Tarantino. Irmão siamês de "Planeta Terror", de Robert Rodriguez, "À Prova de Morte" faz parte do projeto "Grindhouse", criado pelos dois diretores como uma homenagem às sessões duplas de filmes trash, comuns nos anos 80 nos Estados Unidos.
Jungle Julia (Sidney Tamiia Poitier) e suas duas fiéis escudeiras - Arlene "Butterfly" (Vanessa Ferlito) e Shanna (Jordan Ladd) - caem noite adentro, exibindo seus atributos físicos e sua enorme popularidade junto aos homens pelos bares de Austin, Texas. Ao mesmo tempo, não muito longe dali, Stuntman Mike (Kurt Russell) rasga as estradas texanas com seu "death proof", um potente muscle car preparado para servir aos seus instintos assassinos mais cruéis.
Tarantino atinge, aqui, sua maturidade como realizador (não esquecendo, mais uma vez, que "À Prova de Morte" é anterior ao aclamado "Bastardos Inglórios"). É de sua autoria a direção, o roteiro e a fotografia do filme. O diretor, portanto, aproveita dessa liberdade para fazer um filme repleto de referências a sua formação como cinéfilo e, posteriormente, como autor de cinema. A estética remete aos melhores filmes do chamado exploitation - cinema carregado de culto ao corpo feminino, violência, cotidiano do submundo e, naturalmente, de um exagero ímpar na condução de seus temas.
"À Prova de Morte" funciona quase como um devaneio; um desvio súbito da realidade ou, sob outros aspectos, um zoom preciso numa fatia de vida de alguns americanos do meio-oeste. A jornada de Jungle Julia é emblemática - uma garota de 20 e poucos anos aproveita sua fama (bem frágil, por sinal) como apresentadora de uma rádio local para criar nos homens, consequentemente, um forte apelo sexual. Enquanto Mike, no volante de sua máquina à prova de morte, esconde suas frustrações profissionais (como o nome já diz, Mike é um dublê) reproduzindo em violência sua indignação com uma carreira sem muito brilho.
Em tempos de blockbusters fracos e sem sal, Tarantino traz, mais uma vez, uma experiência divertida de cinema. Não por criar uma obra-prima (como é o caso de "Bastardos Inglórios"), mas por mostrar que, sob o sol que "purpuriniza" vampiros desavisados, há mais graça e sabor do que, nessa época de vacas magras, jamais poderíamos supor.
