quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Quando A Vida Não É Bela


DANIEL ISRAEL

Quem nunca viu Forrest Gump, de Steven Spielberg? Catorze anos depois, muitos devem lembra-lo pela eloquência com que um homem fala da própria vida, da infância até o momento em que vê no filho um reflexo de si mesmo.


Em O Contador de Histórias, Luís Villaça faz quase o mesmo. A diferença é que este filme, sobre outro Roberto Carlos, aborda a miséria nacional sob uma ética distinta: a do abandono.
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Forrest Gump sempre foi um menino e um homem excluído pelos demais. No entanto, durante toda a vida ele teve uma amiga que viu nele mais do que um garoto desajeitado, assim como Roberto Carlos encontrou na pedagoga Margherit Duvas a chave para deixar de acreditar que era “irrecuperável”.
Só que este anti-herói brasileiro tinha contra si o mesmo que muitos jovens da mesma idade: durante anos, fato que ressalta o longa de quase duas horas, jovens carentes foram parar na chamada FEBEM, a Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor.
Pior ainda se isto acontecia por iniciativa dos pais, que, pela falta de condições em manter tantos anos filhos, entregava a uma instituição a proteção dos próprios filhos. Entregava para nunca mais vê-los, e também nunca mais sabê-los.
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Aí é que aparece a figura maternal de Margherit, que estava no país para uma trabalho de campo, e acabou por descobrir que não haveria conclusão mais acertada, senão reconstruir a vida de alguém pela educação.
Diferente de Gump, personagem vivido por Tom Hanks, Robertô - a educadora o chamava assim - se tornou morador de rua, já que passou mais tempo fora do que dentro da FEBEM.
Afinal, o que seria melhor para ele: ser estuprado ou morrer na linha do trem? Morar à beira de um barranco e da incerteza ou ter a certeza de uma tortura diária, num lugar onde os moradores deveriam ter melhor tratamento do que na própria casa?
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Mas, como nos filmes da Disney, a história de Roberto Carlos Ramos teve um final feliz. Porque bastou a ele o afeto de outro ser humano para encontrar algum significado na vida, e assim se consagrar como um dos dez maiores contadores de história do mundo.
Mudando um pouco a frase cunhada por Fernando Sabino, diria que, hoje, vive entre nós alguém que nasceu homem e ainda é um menino. E que as suas histórias enterneçam para sempre as vidas de crianças e adultos que tiverem contato com elas.
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