sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Tempo e O Cinema

Hoje estreia o filme “O Contador de Histórias”, baseado na vida de Roberto Carlos Ramos e dirigido por Luís Villaça. Os leitores que acompanham o LixeiraDourada já devem ter lido os textos que inauguraram nossa área de “Colunistas Convidados”, com a semana especial que fizemos para o filme. Esse texto, nossa crítica “oficial”, irá encerrar esse especial.

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“O Contador de Histórias” foge dos maiores clichês do cinema brasileiro sob muitos aspectos. O primeiro, que provavelmente é também o mais óbvio, é o fato de falar de pobreza e violência sem cair nas mesmas justificativas ou buscar um culpado. Ainda nesse ponto, a história não se passa no Rio de Janeiro ou em São Paulo, mas sim em Belo Horizonte, uma grande cidade e tão violenta quanto as outras duas, mas que está em infinitamente menos manchetes dos cadernos policiais.
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Por um ponto de vista mais técnico, também há algumas diferenças. Os três atores que interpretam Roberto Carlos, por exemplo, nunca haviam exercido essa profissão. E, apesar do filme ser inteiramente baseado na vida do contador de histórias, é a figura da pedagoga francesa Margherit Duvas que assume o ar de protagonista da história, não por estar na pele da talentosíssima atriz portuguesa Maria de Medeiros (de Pulp Fiction – Tempo de Violência), mas sim porque esse foi o real papel de Margherit da vida de Roberto. E a expressividade do resto do elenco, como Malu Galli (a psicóloga Pérola) e Jú Colombo (a mãe de Roberto Carlos) acompanham esse talento.
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A belíssima fotografia do experiente Lauro Escorel ajuda a transformar o filme em uma verdadeira obra de arte, função principal do cinema, na minha opinião. Por incrível que pareça, a econômica trilha sonora, com músicas somente onde havia extrema necessidade, formam uma belíssima composição. A preocupação com a direção de arte transformou todas as cenas da imaginação de Roberto Carlos em uma fantasia absolutamente realista, a verdadeira magia do cinema. É realmente difícil destacar especialmente alguma aspecto mas, como editor, não posso deixar de elogiar as maravilhosas elipses (passagens de tempo, em linguagem cinematográfica), realizadas com grande sutileza.
É quase impossível lembrar de todos os aspectos positivos do filme, e fica ainda mais difícil encontrar pontos negativos. Geralmente a experiência da sala escura acaba nos dando uma opinião sobre um filme que acaba sendo prejudicada depois, quando pensamos melhor no que assistimos e acabamos dando mais valor ao que não gostamos. Isso não acontece com “O Contador de Histórias”, que cria um clima tão envolvente que nos impede de perceber esses possíveis defeitos.
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