quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Teatro Filmado

O novo filme de Daniel Filho, “Tempos de Paz”, conta a história de muitos. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos europeus se deslocaram para outros lugares do mundo para tentar reconstruir suas vidas. É o caso de Clausewitz (Dan Stulbach), um polonês que, após perder a família e ver amigos sendo mortos de maneira cruel pelos nazistas, resolve recomeçar a vida no Brasil como agricultor. Quando chega, tenta impressionar recitando um poema de Carlos Drummond de Andrade, acaba chamando muita atenção e é submetido a um interrogatório pelo chefe de imigração na alfândega do Rio de Janeiro, Segismundo (Tony Ramos). Ele é um ex-torturador da Era Vargas que se vê sem rumo quando chegam os "Tempos de Paz", principalmente com a libertação dos presos políticos do Brasil.

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O filme se desenvolve com Clausewitz, um ator utilizando todo o seu poder de persuasão para convencer Segismundo a deixá-lo permanecer no País. São homens muito diferentes, um pensa, pensa e não age, e o outro age, age e não pensa, como disse Bosco Brasil (roteirista do filme) em entrevista. Esta diferença entre os dois personagens leva a uma relação tensa que parece a ponto de explodir a todos os momentos.
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Apesar de todo o enredo, o filme passa longe de ser um relato comum de períodos de guerra. Acaba se tornando um envolvente diálogo sobre o ser humano e suas fraquezas, intolerância e empatia. Sem esquecer que é um belo elogia às Artes, em especial ao Teatro. Como se pode levar alguém a reflexões e mudanças através da arte? No caso do filme, o agente transformador é Clausewitz que leva Segismundo, um homem que sempre seguiu ordens sem questioná-las, a se questionar.
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O personagem Clausewitz foi provavelmente inspirado no ator e diretor de teatro, cinema e televisão, Zbigniew Ziembinski, considerado um dos fundadores do teatro moderno brasileiro por sua encenação inovadora do texto Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, em 1943. Com esta montagem e por seu processo de ensaio, passa a existir o papel do diretor de teatro, aquele que desenha as cenas, substituindo o ensaiador, que só ordenava a movimentação no palco.
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Uma curiosidade é a participação de Ewa Stulbach, mãe de Dan Stulbach, que interpreta Havah (a Sra. Ruiva), uma imigrante polonesa. Para Dan Stulbach, esse é o papel da vida dela, pois a imigração fez parte da história de Ewa, que veio para o Brasil com 19 anos. O filme é uma homenagem a todos os imigrantes que contribuíram para o desenvolvimento das artes e do país de forma geral. E trouxeram coisas novas de fora: novos olhares, novas técnicas e novos valores para tornar a síntese brasileira mais complexa e rica.

Daniel Filho, que ganhou muito destaque na mídia nos últimos anos pelos sucessos de bilheteria de "Se Eu Fosse Você" 1 e 2, acertou em "Tempos de Paz". Apesar de sua atuação deixar a desejar, o roteiro mais bem trabalhado e profundo que seus últimos trabalhos satisfaz e cria maior expectativa do público para seus próximos trabalhos.

“Tempos de Paz” estreia amanhã nos cinemas de todo o Brasil.
Para conferir salas e horários na sua cidade, clique AQUI.
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