sábado, 29 de agosto de 2009

Dor, Luto e Desespero

Estreou ontem no Rio de Janeiro e em São Paulo o novo filme do dinamarquês Lars von Trier, Anticristo. Depois da grande polêmica gerada após a exibição no Festival de Cannes, os trailers e comentários acabaram criando uma enorme curiosidade no público, e até uma espécie de aversão prévia em algumas pessoas. Com toda a razão.

poster
Lars von Trier é uma espécie rara de diretor, que não tem medo de fazer nenhum tipo de filme e de quem se espera qualquer coisa. Muitos (eu inclusive) o comparam com Gus van Sant ("Elefante") no quesito qualidade, afinal, ambos são mestres em fazer apenas filmes extremos: ou são absolutamente geniais ou inexplicavelmente horríveis. E Anticristo está na primeira categoria.
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O filme é dividido em 6 partes: Prólogo, quatro capítulos (Luto, Dor, Desespero e Os Três Mendigos) e um Epílogo. A história gira em torno dos problemas de um casal, Willem Dafoe (“Homem Aranha”) e Charlotte Gainsbourg (“Não Estou Lá”), e aparentemente tudo começa após a morte do único filho (Nic, o único personagem batizado) enquanto eles transavam. A partir desse fato, a esposa acaba apresentando diversos problemas mentais e o marido, psicanalista, decide tirá-la do hospital e embarcar em uma viagem para que ela enfrente seus maiores medos.
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Toda a trama foi criada durante um período altamente depressivo na vida do diretor, e parece que podemos acompanhar todo o trajeto que ele fez até sua recuperação apenas assistindo ao filme. Cada elemento do filme tem um significado próprio e único, da composição de cada plano até a trilha sonora quase inexistente.
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Apesar de ter sido todo filmado com câmeras digitais (atiçando o preconceito dos “cinemólogos” mais puristas) as relações de cor, foco e contraste foram muito bem trabalhadas pelo fotógrafo, Anthony Dod Mantle, vencedor do Oscar por “Quem Quer Ser Um Milionário?”. Com cenas em preto e branco e efeitos de extreme slow-motion, a história vai criando um clima de suspense e pureza, muito raro em filmes desse gênero.
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Ele também abusa do uso de câmera na mão, coisa que geralmente me incomoda bastante, mas que veio na dose certa dessa vez. A presença das lentes em todas as cenas não é escondida, como na maioria dos filmes. Na verdade, o contrário acontece: fica tão explícita a existência desse olho extra nos acontecimentos que é como se a câmera fosse mais um personagem, um espectador da vida do casal. E todos os tremeliques da imagem acabam se justificando, já que o quadro se move acompanhando o vento ou a ação que deve ser mostrada.
É muito difícil chegar a qualquer conclusão bem fundamentada sobre Anticristo, sendo complicado até enquadrá-lo em um gênero específico (eu diria que se trata de um terro psicológico altamente erótico). Tudo o que posso falar é que o filme vale a pena, você não estará desperdiçando o dinheiro do ingresso. E ele merece ser assistido na telona. Resumindo: agora você já sabe o que vai fazer no domingo à tarde.

Para conferir salas e horários de exibição na sua cidade, clique AQUI.
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