O paraíso de todo diretor de cinema é ter seu filme classificado com “sem restrições orçamentárias” por seu estúdio. O documentário sobre o filme inacabado "O Inferno", de Henri-Georges Clouzot, recebeu esse honraria assim que os produtores viram os testes de filmagem. Eis a ideia do filme: um homem se casa com uma mulher, eles vão a um hotel de veraneio na margem de um lago, ele tem ciúmes da esposa.
No entanto, quando um gênio resolve fazer um filme, nada é assim tão simples. Clouzot não queria pouco; ele queria revolucionar o cinema francês. Queria repensar os aspectos visuais do cinema, sacudir a nouvelle vague. O marido, ciumento, começa a ter distorções da realidade que o cerca, de modo que tudo converge à concretização do adultério por sua mulher.
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Foto: Divulgação |
E as distorções partem da repetição obsessiva de suas palavras, que vão seguindo um tom psicótico. E a realidade, no filme, em preto-e-branco, atinge um ápice de loucura em cores doentias. Cores estas que estavam florescendo nos anos sessenta, com influências da op art e da arte cinética.
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Foto: Divulgação |
Deformar a realidade concebendo padrões estéticos de deformação impressiona. E Clouzot pôs sua equipe em histeria nos seus devaneios artísticos. Mas não é só técnica que brinda e faz brilhar os olhinhos do espectador. Romy Schneider é o ícone do filme, aparecendo em todas as cores e luzes, e, ainda, além de ser a protagonista do filme não-realizado, é a heroína do documentário por ter conseguido segurar a onda do diretor.
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Foto: Divulgação |
A grande sensação que esse documentário nos deixa é, definitivamente, frustração. Não só apenas por ser uma quase obra-prima, mas por evidenciar a monstruosidade que um gênio pode ter. Esse filme certamente seria um marco histórico no Cinema. E, certamente, vários Clouzots já passaram por esse mundo.
