Estreou hoje nos cinemas nacionais “Chico Xavier”, o último trabalho do bem-sucedido diretor Daniel Filho, que foi responsável por algumas das maiores bilheterias cinematográficas pós-retomada (vide Se Eu Fosse Você… 1 e 2, por exemplo). Curiosamente, a projeção é iniciada com uma afirmação que é de conhecimento geral, mas que poucos admitem: é impossível transportar para o cinema a vida de quem quer que seja sem fazer escolhas que deixem de lado algumas fases dessa história.

Baseado no livro As Vidas de Chico Xavier, do jornalista Marcel Souto Maior, o filme acompanha a trajetória do médium desde sua infância, quando era criado por uma madrinha (Giulia Gam) que o maltratava física e psicologicamente, até seus 65 anos. Ao longo de 125 minutos. passa por toda a fase da descoberta, aceitação e entendimento da mediunidade e utiliza o famoso debate exibido no programa de TV ‘Pinga-Fogo’ como elemento essencial na “costura” dos diversos elementos do filme.

É durante o programa, inclusive, que conhecemos os personagens mais expressivos na trama, além de Chico e de seu guia espiritual, Emmanuel (André Dias), é claro. Orlando (Tony Ramos) e Glória (Christiane Torloni) são um casal que perdeu o único filho e ainda aprende a conviver com essa dor. Ela busca conforto nas mais diversas religiões e crenças, mas ele não vê sentido nessa busca e considera tudo uma grande farsa. Até ser receber das mãos de Chico, nos bastidores do programa, uma carta do filho.

O papel do médium foi confiado a três atores, os veteranos: Nelson Xavier (entre 1969 e 1975), que pediu a Daniel Filho que o deixasse participar do filme, Ângelo Antônio (1931 a 1959), escolhido pelas semelhanças físicas, e o novato Matheus Costa (1918 a 1922), que foi escolhido entre quase 400 testes. É preciso dizer que a performance dos três, e da maior parte do elenco, está impecável.
O filme tem uma enorme variedade de pontos positivos e, é claro, algumas inevitáveis falhas. A história é muito emocionante e envolvente, e é contada com um tom leve e acolhedor que permite até algumas risadas da plateia. Fotografia, edição e trilha sonora também merecem comentários à parte (não me lembro de outro filme nacional cuja mixagem tenha me agradado tão nitidamente). Confesso que não sou um grande fã de Daniel Filho, mas Chico Xavier definitivamente merece meus aplausos.
