Já faz algum tempo que os filmes de animação deixaram de ser um sinônimo de produção direcionada ao público infanto-juvenil. Melhor que isso, a animação vem ganhando espaço com temáticas mais desenvolvidas e personagens mais complexos e profundos. Desvinculado desse paradigma construído antigamente, pode-se dizer que hoje este tipo de filme está traçando um novo caminho que passa longe dos temas rasos das obras infantis.
Adam Elliot, famoso por seus curta-metragens, chega com seu primeiro longa “Mary e Max – Uma Amizade Diferente” (Mary and Max, Austrália, 2009) tratando de dois sentimentos aparentemente opostos: amizade e solidão. Mary (dublada por Bethany Whitmore e Toni Collette) é uma criança australiana de oito anos que convive com problemas de aceitação e um família desestruturada. Ao começar a enviar cartas para o desconhecido Max (dublado por Philip Seymour Hoffman), um judeu norte-americano de meia idade, a menina cresce junto com seu amigo descobrindo o verdadeiro sentido de amizade e os impecílios deste relacionamento.
Com um pano de fundo carregado de distúrbios psicológicos trabalhados com densidade, a trama mostra a construção da amizade entre duas pessoas com fortes problemas de sociabilidade. A distância age como um caminho seguro que, durante os anos de correspondência, serve como um incentivo à descoberta do outro, descoberta de si como ser humano e descoberta da força para superação dos problemas.
É interessante reparar que o filme possui bastante harmonia em seu todo. Na evolução da narrativa, os elementos angustiantes levam sempre um pouco de graça no equilíbrio dos conflitos. Não diferente, a textura de todo filme cria uma aparência pesada enquanto as feições dos personagens passam um ar simpático e até mesmo infantil.
Por fim, a fotografia que trabalha os tons do marrom ao pastel em Mary e o preto e branco em Max, é um aspecto simples porém muito inteligente de contextualizar visualmente os protagonistas em suas realidades. O vermelho, cor-detalhe do filme, é o elemento de fusão que permeia essa encantadora produção em stop-motion de Elliot. Contrastante, transgressora e diferente, “Mary e Max” é uma delicada bomba sentimental.
