Está entrando em cartaz um filme, digamos, inusitado. Se trata de “Rita Cadillac – A Lady do Povo”, documentário de Toni Venturi sobre a controversa ex-chacrete que voltou a ficar famosa como musa (ou madrinha) do Carandiru. Com 77 minutos de duração, o filme ronda a carreira e a vida privada das duas “Ritas” que habitam o mesmo corpo.
É difícil emitir uma opinião sobre o filme. A temática certamente traz muitos preconceitos, mas é inacreditavelmente mais interessante do que parece. Afinal, duvido que alguém que esteja lendo esse texto nunca tenha ouvido falar em Rita Cadillac. Da mesma forma que duvido que um de vocês saiba algo sobre Rita de Cássia Coutinho, a mulher real por trás do personagem. É essa mulher que o diretor busca todo o tempo, e imagino que ele tenha encontrado mais do que nos mostra.
![02_Rita_Cadillac_-_Garimpo_anos_80[1] 02_Rita_Cadillac_-_Garimpo_anos_80[1]](http://lh6.ggpht.com/_sQRvYneAOvY/S71FiYDXa3I/AAAAAAAADzc/8S9X98ys9d4/02_Rita_Cadillac_-_Garimpo_anos_80%5B1%5D%5B13%5D.jpg?imgmax=800)
Assim chegamos, inevitavelmente, às falhas do filme. Me pareceu que Toni não escolheu muito bem uma linguagem documental a ser seguida: começa com aquele tom jornalístico, estilo Globo Repórter; passa por um gênero mais “testemunhão”, com imagens de arquivo, fotos e depoimentos que nos levam à infância de Rita; viaja pelo estilo BBC, com longos takes emotivos; e termina sem dizer muito bem a que veio. E isso não me parece ser um erro de edição, já que esta foi muito bem realizada e consegue voltar a prender nossa atenção a cada uma dessas viradas.
![01_Rita_Cadillac_-_PG_do_cadillac[1] 01_Rita_Cadillac_-_PG_do_cadillac[1]](http://lh5.ggpht.com/_sQRvYneAOvY/S71FjWn2nII/AAAAAAAADzg/FrMcfNsNa2Y/01_Rita_Cadillac_-_PG_do_cadillac%5B1%5D%5B15%5D.jpg?imgmax=800)
Algumas cenas “produzidas” poderiam ter sido evitadas, ou ter recebido menos importância no corte final, como a visita de Rita ao internato de freiras onde morou e a viagem para conhecer a irmã cuja existência ela desconhecia até pouco tempo antes das filmagens (que aconteceram em 2008). Sem falar nas cenas dos filmes pornôs estrelados por ela… Isso daria mais espaço para imagens de arquivo e depoimentos que nos divertem bastante.
Apesar de tudo, é uma obra interessante. Mostra o lado humano de uma mulher que era considerada apenas uma bunda. Como ela mesma diz, no final do filme, existe uma mulher de verdade fora do personagem e dentro da cabeça dela. É curioso saber que ela sempre teve consciência do que estava fazendo e de como usava seu corpo para ganhar a vida e poder sustentar seus filhos, passando por cima de todo o sofrimento que isso pode trazer. De uma coisa não há dúvidas: Rita é sim uma Lady. Uma lady do povo. Cada um tem a diva que merece.
