Texto escrito por MARIANA TIEFENSEE e publicado dentro da sessão “Colunista Convidado”.
O que esperar de um filme espanhol, em inglês com uma russa no papel principal e que se passa na Itália? Pois é, parece um tanto confuso, mas Julio Medem, diretor e também escritor de Um Quarto em Roma ("Habitación en Roma", 2010), conseguiu transformar tudo isso em um filme pra lá de interessante.
No meio do caminho, Alba (Elena Anaya), a lésbica estereotipada, tenta persuadir Natasha, a heterossexual curiosíssima, a subir até seu quarto. Depois de alguma insistência, a curiosidade toma as rédeas e é aí que a história começa. As duas se envolvem em uma tórrida noite de paixão, cheia de histórias, segredos, confidências, revelações, orgasmos e decepções.
Demora um pouco até o roteiro engrenar de vez, chega até a ficar ligeiramente travado, mas não dá pra dizer se é a proximidade que as duas tomam no filme ou se é realmente o roteiro que começa a fluir por si só. A (provavelmente) russa Natasha (Natasha Yarovenko) é um espetáculo a parte: à primeira vista, só causa efeito por sua altura e beleza, mas no decorrer do filme a personagem vai se tornando muito mais envolvente por sua complexidade.
Um filme excitante, incitante e muito bem orquestrado. Julio Medem, também dirigiu “Lúcia e O Sexo” (Lucía y el Sexo, 2001), outro filme que coloca a mulher em primeiro plano. A mão masculina, no entanto, é perceptível nesse filme ultra lésbico, principalmente nas cenas de sexo que, por vezes, pareciam falsas demais. Porém, mais do que isso, o filme chega a ser até assustador pela maneira como te faz sair do cinema imerso na história de Alba, de Natasha e naquela de um tal quarto de hotel. A trilha sonora contorna isso tudo com entradas triunfantes e cortes brutos, de uma simplicidade que não necessita de mais do que alguns acordes intercalados em duas horas de filme. E, para descrever em poucas palavras: sensual, sexual, homossexual e magistral. Tudo isso em alguns metros quadrados, muito bem utilizados, no meio de Roma.