sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Alguns Metros Quadrados Muito Bem Utilizados

Texto escrito por MARIANA TIEFENSEE e publicado dentro da sessão “Colunista Convidado”.

O que esperar de um filme espanhol, em inglês com uma russa no papel principal e que se passa na Itália? Pois é, parece um tanto confuso, mas Julio Medem, diretor e também escritor de Um Quarto em Roma ("Habitación en Roma", 2010), conseguiu transformar tudo isso em um filme pra lá de interessante.


Tudo se passa, como diz o título, em um quarto de hotel em Roma. O que leva o espectador às mais variadas situações são as complexas e intrigantes histórias sobre suas vidas que as personagens. O filme é uma adaptação de “Na Cama” (En la Cama, 2005), de Matías Bize, no qual dois jovens se conhecem em uma festa e acabam trocando sexo e confidências em um quarto de hotel. Dessa vez, no entanto, a história acontece com duas jovens mulheres que se conhecem em um bar e no meio da noite decidem voltar juntas aos seus hotéis.


No meio do caminho, Alba (Elena Anaya), a lésbica estereotipada, tenta persuadir Natasha, a heterossexual curiosíssima, a subir até seu quarto. Depois de alguma insistência, a curiosidade toma as rédeas e é aí que a história começa. As duas se envolvem em uma tórrida noite de paixão, cheia de histórias, segredos, confidências, revelações, orgasmos e decepções.


Demora um pouco até o roteiro engrenar de vez, chega até a ficar ligeiramente travado, mas não dá pra dizer se é a proximidade que as duas tomam no filme ou se é realmente o roteiro que começa a fluir por si só. A (provavelmente) russa Natasha (Natasha Yarovenko) é um espetáculo a parte: à primeira vista, só causa efeito por sua altura e beleza, mas no decorrer do filme a personagem vai se tornando muito mais envolvente por sua complexidade.


Um filme excitante, incitante e muito bem orquestrado. Julio Medem, também dirigiu “Lúcia e O Sexo” (Lucía y el Sexo, 2001), outro filme que coloca a mulher em primeiro plano. A mão masculina, no entanto, é perceptível nesse filme ultra lésbico, principalmente nas cenas de sexo que, por vezes, pareciam falsas demais. Porém, mais do que isso, o filme chega a ser até assustador pela maneira como te faz sair do cinema imerso na história de Alba, de Natasha e naquela de um tal quarto de hotel. A trilha sonora contorna isso tudo com entradas triunfantes e cortes brutos, de uma simplicidade que não necessita de mais do que alguns acordes intercalados em duas horas de filme. E, para descrever em poucas palavras: sensual, sexual, homossexual e magistral. Tudo isso em alguns metros quadrados, muito bem utilizados, no meio de Roma.

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