sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Por Uma Vida Mais Mágica

Está chegando às telonas o novo filme de Neil Jordan, diretor do aclamado "Café da Manhã em Plutão" e do oscarizado "Traídos Pelo Desejo". Já exibido no Festival do Rio, Ondine (Irlanda, 2009) traz toda a beleza de um conto de fadas sob a forma de um profundo drama moderno. Com atuações marcantes e questionamentos pertinentes, nos envolve em sua trama do começo ao fim.


Colin Farrell vive um dos melhores momentos de sua carreira interpretando Syracuse, um pescador alcoólatra que já foi o palhaço da pequena cidade onde vive e luta para reconstruir sua vida e criar sua filha doente. Tudo caminha na mais monótona normalidade, com zombarias descabidas em excesso e peixes em falta, até que ele fisga em sua rede uma bela e misteriosa jovem (Alicja Bachleda) que não quer ter contato com nenhum outro ser humano e pede para ser chamada de Ondine. Ele, então, deixa que ela more na casa de sua falecida mãe cigana, em um local isolado e desabitado há anos.


Logo depois, sua mudança de comportamento aguça a curiosidade de sua filha Annie (interpretada de forma impressionante pela pequena Alison Barry). A menina decide investigar um pouco e, ao descobrir a moça, liga alguns pontos nas histórias que o pai vem contando e concluí que ela é uma Selkie, ser lendário do norte das ilhas britânicas, muito semelhante à nossa Iara. A insistência da filha no assunto e a inacreditável sorte que Ondine traz nas pescarias mexem com o ceticismo de Syracuse, que chega a considerar a possibilidade fantasiosa. Até que a moça é finalmente descoberta pelos outros habitantes da cidade, e as coisas começam a mudar...


Através de elementos míticos muito bem encaixados, Neil Jordan traz à tona discussões extremamente importantes no mundo contemporâneo, mas sem nos assustar ou chocar. É justamente essa leveza na construção da estrutura narrativa que cria uma obra suave e envolvente do primeiro ao último minuto e, como todo bom filme, nos faz sair do cinema lamentando que não houvessem alguns minutos a mais de projeção. Naturalmente, as belas paisagens irlandesas e a presença da atriz méxico-polonesa no papel título contribuem muito para isso.


Como em todos os filmes do diretor, a trilha sonora é mínima e perfeitamente encaixada, dessa vez através de uma música da banda islandesa Sigur Rós, usada como "canto da sereia". A direção impecável é completada por uma fotografia impressionante. Ondine é um caso (cada vez mais raro) de filme que vale cada centavo do (cada vez mais caro) ingresso do cinema.

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