quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Derrapando No Modelo

A comédia é um reflexo comportamental da sociedade americana. Desde os primórdios do cinema que a indústria do riso fornece uma ampla discussão temática sobre o que é “ser americano”. E Todd Phillips, ciente desse poder que só a comédia proporciona, é um dos responsáveis por reinventar a comédia americana nos anos 2000. Com obras de valor cinematográfico relevante como Dias Incríveis (2003) e o estrondoso sucesso Se Beber, Não Case (2009), Todd tornou-se uma referência em Hollywood. É surpreendente perceber, entretanto, que a mais nova empreitada do diretor, o insosso Um Parto de Viagem (Eua, 2010), não seja nada além de um conjunto de gags sem equilíbrio, sem alma e de mensagem vazia.


Peter Highman (Robert Downey Jr.) é um arquiteto de sucesso que, após a interferência desagradável de Ethan Tremblay (Zach Galifianakis), é impedido de viajar de avião pelo governo americano. Sem carteira ou dinheiro, Peter, então, tem que recorrer justamente à ajuda de Ethan para cruzar os Estados Unidos de carro e encontrar sua esposa, às vésperas do nascimento de seu primeiro filho. À revelia de sua vontade, Peter embarca, também, nas esquisitices de Ethan, um aspirante a ator que sonha em participar do seriado Two and a Half Men, em Hollywood.


A viagem, naturalmente, não poderia ser, senão, uma odisseia de desenganos. Um acidente de trânsito, uma briga com um paraplégico, uma imigração ilegal e até um tiro de pistola fazem parte do esforço involuntário de Ethan para enlouquecer Peter. O filme, entretanto, abusa do teor melodramático para contar uma história de pais e filhos, já que Ethan, que havia recentemente perdido o pai, é quem convence Peter, abandonado por seu pai e na iminência de ter um filho, da importância do valor da família.


Todd Phillips, com um orçamento pomposo (vide o retorno financeiro gigantesco de Se Beber, Não Case), trabalha com uma equipe técnica que prima, sem dúvidas, por uma (quase) perfeição em seus movimentos. A trilha sonora, a fotografia e a edição ágil são os pricipais atrativos de Um Parto de Viagem. A direção, regular, trabalha dentro do padrão hollywoodiano clássico: closes recorrentes, panorâmicas de helicóptero e ritmo videoclipado.


A força da comédia de Phillips, como atestado anteriormente, está na capacidade de aliar valor humano à escatologia. Um Parto de Viagem, infelizmente, não é equilibrado em momento algum. Exagero é, certamente, a definição mais precisa do filme. Escatologia em excesso, dramalhão sem sensibilidade. Prova de que a comédia, o mais dinâmico dos gêneros clássicos, parece querer forçar seus mais recentes revolucionários a reinventarem seu próprio cinema. Fica a dica, Todd.

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