quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Magia é Poder

Harry James Potter nasceu, como nas melhores fantasias, de um devaneio. Uma inspiração súbita inundou Joanne Kathleen Rowling em um trem lotado e, desenhada quase que por magia, a saga mais importante da história da literatura infanto-juvenil tomou forma. A jornada, levada para as telas após o sucesso estrondoso de vendas, transformou-se no maior fenômeno pop dos nossos tempos. A primeira metade do sétimo capítulo da série justifica seu frisson antecipado e chega aos cinemas para encerrar um ciclo. Harry Potter e As Relíquias da Morte – Parte I (Eua, 2010) é uma obra-prima da aventura.


Após a morte de Dumbledore – no fim do sexto capítulo – Harry, Rony e Hermione tomam a decisão de deixar Hogwarts e partem em busca das horcruxes – partes mortais da alma de Lord Voldemort. O poder das trevas, em gigantesca ascensão, ameaça a liberdade e a segurança do mundo da magia, e, como primeira medida, Voldemort toma o Ministério da Magia e promulga leis de caça aos nascidos trouxas (bruxos que vêm de famílias de não-bruxos). Harry Potter, naturalmente, torna-se o inimigo número um do Ministério, tornando-se, assim, o bruxo mais procurado do mundo mágico.


Harry Potter está, pela primeira vez, fora dos domínios de Hogwarts. E esse é, sem dúvida, o grande salto narrativo da série. A unidade de lugar, presente nos seis primeiros capítulos, dá espaço a um dinamismo inédito – o amadurecimento inevitável de Harry só poderia ser possível no mundo exterior aos portões protegidos por Dumbledore e a Ordem da Fênix. Mesmo que, dada a atual conjuntura, Hogwarts não seja tão segura quanto nos anos anteriores.


O trio Daniel Radcliffe (Harry), Rupert Grint (Rony) e Emma Watson (Hermione) encontrou, finalmente, o tom ideal para seus personagens. Rupert, mais uma vez, destaca-se, dessa vez aliando intensa carga dramática à já usual ironia característica de Rony. A fotografia e a direção funcionam como uma continuação estética do filme anterior, e, portanto, não apresentam maiores novidades. Mas a trilha sonora, destaque supremo dessa vez, acrescenta (e muito) para a construção do terror necessário para a trama. Os temas de John Williams agora dão lugar a uma música intensa e, porque não, assustadora.


Parece perceptível a intenção de compreender que, assim como seus próprios personagens, o fã de Harry Potter, enfim, cresceu. A intensificação do suspense e do terror não parece nem de perto corresponder à fantasia ingênua dos primeiros capítulos. A cinessérie aproxima-se do fim com a (quase) certeza de eternidade. Para os fãs, já ansiosos para a estreia da segunda parte (15 de julho de 2011), fica a impressão de que, infelizmente, só nos resta aceitar a condição de órfãos da primeira grande fantasia das nossas vidas.

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