sábado, 9 de junho de 2012

Que Morram as Rosas



A França sempre – ou quase – nos brinda com grandes filmes e reflexões. Hoje então vamos falar de existencialismo, dialogaremos com a morte e o não deixar nada para trás. Ser capaz de seguir um caminho sem volta e não olhar para o que se abandonou. Esquecer amor em ordem de não se machucar. O Tempo Que Resta (Le Temps Qui Reste, 2005) é a nossa película da vez.


Romain (Melvil Poupaud) é fotógrafo de moda e aos 31 anos é diagnosticado com câncer terminal. Muitos filmes fariam uma história sobre Como Aproveitar Da Melhor e Mais Divertida Maneira Seus Últimos Dias, mas não este. Romain abandona tudo e todos para aceitar sua morte sozinho. Ele recorda do mar e do seu tempo quando criança, vive dentro de suas lembranças enquanto ignora seu namorado, sua irmã grávida e seus pais. Como uma onda grande, ele os afasta de sua praia decrépita violentamente. E vaga sozinho a engolir o sol.


O que fazer com o tempo que nos resta? O protagonista tem essa pergunta martelando em sua cabeça desde o anúncio de sua doença e só encontra – talvez – significados e respostas com sua avó, uma mulher que abandonou a família para viver a vida como gostaria. Os dois são frutos de uma mesma árvore, caídos em gerações diferentes, e com o mesmo gosto. Ele e ela se entendem, mas ainda assim Romain decide seguir seus últimos dias sozinho.


E por que um fotógrafo? Por que alguém deseja eternizar momentos se já sabe que está no fim da vida? Ele não para, sempre com sua câmera digital consigo. Por que fotografar outras coisas se não a si se queres estar sozinho? Ele escreve com as fotografias um réquiem para sua própria lápide. Uma sinfonia mortal em uma espécie de “road movie existencialista”. A tragédia de um único ser humano egoísta nunca foi tão encantadora, e apenas o diretor e roteirista François Ozon para criar uma obra tão profunda em um filme tão breve. Cheio de metáforas e com cheiro de quero ver novamente. Um epitáfio sobre abandono e desapego, relações humanas e a validade de nossas vidas. Afinal, somos um pouco do personagem principal, ou gostaríamos de ter sua "coragem". Egoístas a abondonar quem se ama e quem nos ama. Estamos finalmente prontos para abraçar a morte em uma última dança. 

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