sábado, 16 de junho de 2012

Rosa e Azul



Eu caminho por Montmartre a aproveitar os últimos momentos neste lugar. O céu está meio nublado, é o tempo perfeito para mais um café com baunilha. A França vai embora hoje, e daqui partirmos para a fria e distante Finlândia. Não posso esquecer de comprar minha passagem de trem. Ah, Adeus croissants de chocolate – e me desculpe se só penso em comida e cinema. –  Este ciclo se fecha com um pouco de psicologia infantil, sexualidade e aquela delicada época das descobertas. Lembrou-me até do meu primeiro texto para o site, no Ciclo Dinamarca. Tomboy (“Tomboy”, 2011) tem o mesmo espírito livre do filme dinamarquês de tanto tempo atrás. Talvez corpos e personalidades mudem, não a mensagem que se tenta passar nesses anos todos; ideais franceses tão conhecidos, mas pouco exercidos de liberdade, fraternidade e igualdade.


Laure (Zoé Héran) é uma menina andrógena de 10 anos de idade diferente da maioria das garotas. Prefere futebol e shorts às bonecas e vestidos. Quando ela, seus pais e sua precoce irmã mais nova Jeanne (Malonn Lévana) se mudam para o novo bairro, tudo parece normal. Até a vizinha Lisa (Jeanne Disson) confundi-la com um menino. Aquilo é tão excitante para Laure que ela não desmente a visão da outra menina e assume até mesmo um novo nome, Michaël. Dentro dessa nova e extraordinária identidade, o verão começa com longas tardes ensolaradas, jogos e claro, os famigerados primeiros beijos.


Tomboy foi escrito em Março de 2010 e em Agosto do mesmo ano já estava sendo rodado. Filmes como esses levantam sim certas bandeiras, são militantes – e qual o problema disso? – de uma causa de amor. Como disse a roteirista e diretora Céline Sciamma: o tipo que é feito em um impulso, com uma motivação forte e muita dedicação. Em 20 dias de filmagem estava “pronto”.  Saiu do ventre da Mãe Arte e logo já era um adulto muito bem feito. Não precisaram nem de muito tempo e dinheiro, porque acreditam naquilo, acreditavam na verdade e potencial de um projeto, eu diria, transformador. Essa velocidade de produção reflete um pouco o estado mental do filme, esse radicalismo e dinamismo tão buscados, do tipo que cria novas energias e motivações.


A ironia dramática é fundamental para nos apegarmos à história. E desde o começo embarcamos na questão alegórica de sermos uma coisa e queremos ser outra. Assim, dentro de um universo de vontades e aparências subjetivas, nós somos brindados com um dos melhores elencos infantis dos últimos tempos. E como se o filme precisa de mais, a atmosfera é como em pinturas francesas impressionistas. Mergulhar nesta obra e não sair molhado e com espírito lavado é impossível.
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