terça-feira, 17 de maio de 2011

FILOSOFILMES: Perspectivas da Verdade

Akira Kurosawa já era um cineasta reconhecido na sua terra natal em 1950. Com Rashomon (Japão, 1950), ele finalmente atinge o Ocidente. De produção simples, e com muita inteligência, o filme entrou para a cultura pop, virou provérbio,  e até a psicologia usa a expressão “Efeito Rashomon” para a subjetividade em relação as lembranças. Indiscutivelmente, um dos melhores longas de sua carreira.




Um estupro e assassinato aconteceram. Há quatro testemunhas, incluindo o criminoso e a vítima que fala através de um médium. Mesmo com pontos em comum, cada personagem tem sua “visão” da história, sendo impossível para o espectador determinar o que de fato aconteceu. 



A história vem do conto homônimo de Ryunosuke Akutagawa de 1914, que por sua vez foi inspirada em um conto japonês do século XII. O profundo drama psicológico impressiona pela subjetividade de cada personagem na hora de contar a história. Cada um terá “a sua verdade”, e também “puxará” para o lado que mais lhe convém. Inicialmente o espectador pode achar confuso, e muitos não gostarão da impossibilidade de atribuir uma “verdade absoluta” sobre o que aconteceu. A proposta de Kurosawa é fazer  o espectador refletir: “O que é a verdade?” ou “A verdade também é uma construção de nossas mentes?”.




O impacto do longa se estende até hoje: “Rashomon” é um provérbio usado quando uma situação na qual a veracidade de um evento é difícil de ser verificada devido a julgamentos conflitantes de diferentes testemunhas. Em produções audiovisuais também vemos o “efeito Rashomon”: a empresa de jogos SEGA no jogo Sonic Adventure 1/DX para Dreamcast e PC colocou 6 personagens jogáveis com diferentes perspectivas da história baseada no filme de Kurosawa.  No episódio “Vampiros” da quinta temporada da série Arquivo X, cada personagem conta a mesma história com visões diferentes. Há muitas outras referências em diversos meios, em Power Rangers SPD no episódio “Perspective”, na série “CSI”, no filme “Ghost Dog”, e outros.




Rashomon é um filme antigo, de produção barata, e japonês, motivo suficiente para muitos se “munirem” de preconceitos e colocar as primeiras “pedras nas mãos” . Ao mesmo tempo é inteligente, inovador, “sensível”, diferente, diverte e faz o espectador refletir. Foi indicado a diversos prêmios, incluindo o Oscar de melhor fotografia em preto e branco no ano de 1953. Para quem gosta de cinema menos comercial e mais artístico, não deve deixar de assistir. Na humilde opinião de quem vos escreve, esse é um dos melhores, quiçá o melhor filme do Kurosawa. 

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