quinta-feira, 12 de maio de 2011

Outros Contos Acerca Do Lugar-Comum

O clichê nos salva. E é Woody Allen que corrobora a tese de que, ainda que busquemos com insensata devoção uma saída elegante do que nos torna tão repetitivos, sempre esbarraremos na estranha sensação de estarmos fazendo tudo absolutamente igual ao resto. O Noivo da Minha Melhor Amiga (Something Borrowed, Eua, 2011), que estreia agora no Brasil, não passa de, no máximo, a comédia romântica fofinha da semana. Pois, ao entregar-se a absolutamente todos os lugares-comuns do gênero, mantém-se à mercê da máxima hollywoodiana de desconfiar da inteligência dos espectadores. Mais um erro.


A bola da vez é a obsessiva e quase trintona Rachel (Ginnifer Goodwin), secretamente apaixonada por Dex (Colin Egglesfield), que, surpresa!, é o...noivo de sua melhor amiga, a egocêntrica e deslumbrante Darcy (Kate Hudson). Eis que o romance de Rachel e Dex consuma-se algumas semanas antes do casamento, criando, assim, uma paranoia que vai desde a incapacidade de Dex de decidir sua vida até o latente incomôdo de Rachel em conviver com a sensação dúbia de ter que teoricamente escolher entre o “amor de sua vida” e sua melhor amiga.


O triângulo amoroso, entretanto, ganhe cores dramáticas a partir da entrada triunfante de Ethan (John Krasinski) na confusa história de Rachel, Dex e Darcy. E nada mais acrescenta além de funcionar como válvula de escape da insatisfação de Rachel. O time de atores, equilibrados entre apostas da nova geração como John Krasinski e estrelas do início da década passada como Kate Hudson apenas provam a dificuldade que há em Hollywood de fugir da escalação óbvia dos mesmos rostos – todos tão novaiorquinos e, ao mesmo tempo, representantes máximos da dita “geração Y”.


Baseado no Romance de Emily Giffin e dirigido pelo limitado Luke Greenfield, responsável pelo razoável Show de Vizinha e pelo escatológico Animal, fruto da imaginação fértil de Rob Schneider, O Noivo da Minha Melhor Amiga não esconde a intenção de abordar em tópicos os argumentos que sustentam a atual comédia romântica americana. O cenário? New York (não obstante, ainda estão lá as tomadas de apresentação de Manhattan e o lifestyle novaiorquino). O conflito? Um triângulo amoroso impossível. O resultado? A redenção dos rejeitados e a compreensão cheia de superioridade dos vencidos.


A comédia romântica data do início da expansão do cinema americano como produto máximo do entretenimento mundial. Desde clássicos como Aconteceu Naquela Noite até o contemporâneo e não menos brilhante (500) Dias Com Ela, é de praxe contar a história de americanos comuns através de seus amores e seus cotidianos caóticos. Duro é, entretanto, ainda ser necessário lidar com a cota anual de comédias melosas e vazias prontas para o DVD e para o cérebro de quem não quer se esforçar muito pra pensar. Culpa de Hollywood? Mea-culpa do público. Faça-se justiça.

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