Uma ideia concebida pela mente mercadológica e visionária de Jerry Bruckheimer repaginou o conceito de uma atração do Walt Disney World para trazer ao cinema o resgate definitivo do cinema de aventura de qualidade. E, em 2003, nascia Jack Sparrow e seus Piratas do Caribe. Hoje, 8 anos depois, fecha-se (?) a saga de Jack com o deslumbrante Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas (Pirates of The Caribbean: On Stranger Tides, Eua, 2011), o quarto e último (?) capítulo da série que transformou um pirata ambíguo e de virtudes duvidosas em ícone pop.
Em resumo: Jack (Johnny Depp), como já era previsto ao fim do terceiro capítulo, parte em busca da Fonte da Juventude e, como manda o roteiro, arma um sem-número de fugas, esquemas e conspirações para, como sempre, conseguir um navio que possa levá-lo ao seu destino. Como bônus, tem a companhia da instável e obviamente bela Angelica (Penélope Cruz), além da indesejável ameaça do lendário pirata Barba Negra (Ian McShane). Para não mencionar, é claro, a participação hilária e precisa do cúmplice e arquirrival Barbossa (Geoffrey Rush), dessa vez como um corsário da marinha inglesa.
A era dos blockbusters, iniciada no fim dos anos 70 com Tubarão de Steven Spielberg, modificou a lógica do cinema de entretenimento. Os épicos de duração infinita finalmente dariam lugar às franquias de aventura, que, em uma só tacada, resgatariam a estética do cinema de ação dos anos 30 e ainda trariam o marketing e a cultura pop pela primeira vez às telas. Os anos 80, enfim, marcariam o ápice do gênero de aventura que, em meados dos anos 90, com Jurassic Park, parecia mais uma vez fadado à morte súbita. Até o nascimento de Jack.
A jornada de Sparrow parece chegar ao fim do quarto episódio com a mesma impressão que já era nítida no começo da série: o que importa não é necessariamente a narrativa nem a construção do roteiro em si. O essencial, antes de tudo é a capacidade do diretor Gore Verbinski nos três primeiros episódios e agora do substituto Rob Marshall (Nine e Chicago) em aliar ação ininterrupta à construção de personagens lúdicos e extremamente complexos, com espaço para uma crítica sutil ao politicamente correto e ao sentido padronizado da vida.
A mídia especializada se divide ao apontar o destino da franquia cinematográfica mais divertida dos últimos 15 anos: há os que dizem que Jack, ainda em ótima forma, pode aparecer em mais um ou dois filmes nos próximos anos. Há também os que dizem que o pirata mais famoso da história do cinema, enfim, aportou pela última vez em Tortuga, saudoso de suas mulheres e do rum caribenho. Seja lá qual for o resultado, em que pese a necessidade de Bruckheimer e de Johnny Depp em faturar mais alguns milhões, fica a certeza de que o cinema, renovável como deve ser a arte, não se cansa de surpreender. Para nosso deleite. Au revoir, Jack, até logo.
