sexta-feira, 13 de maio de 2011

Judia De Mim

O filme Santa Paciência (The Infidel, Reino Unido, 2010) conta a história de um muçulmano comedido que tem por volta dos seus 40 anos de idade. Casado, com um filho jovem adulto e uma filha pequena, Mahmud Nasir (Omid Djalili) é gordo, narigudo e mora num bairro pobre de Londres. Marido querido, mas um tanto irresponsável, o homem mais parece um menino. Porém, um dia começa a organizar algumas caixas que estavam jogadas por sua casa e encontra dentro de uma delas uma carta afirmando que ele havia sido adotado quando recém nascido. Decepcionado, ele vai dormir sem falar com ninguém.




Em paralelo segue outro núcleo da história, no qual Rashid (Amit Shah), o filho mais velho de Mahmud, só pensa em se casar com Uzma (Soraya Radford), uma bela pós-adolescente paquistanesa que arranjou como padrasto um líder islâmico ultramegafundamentalista, mais conhecido como Arshad Al-Masri (Yigal Naor), que determinava que o matrimonio só ocorreria caso ele fosse apresentado à família Nasir. Uzma, então, faz com que o ansioso namorado convença o pai a se passar por ortodoxo.
Mahmud, que por muitas vezes brincava de ensinar frases politicamente incorretas à filha caçula, ou entrava em discussões com o taxista judeu Lenny Goldberg (Richard Schiff) que morava ao lado, agora se via numa encruzilhada por ter que encarar uma pessoa dura como Arshad Al-Masri sob seu telhado, ainda mais quando acabara de descobrir que era judeu. Sim, yehudi! Jew, jew, jew! Mahmud tinha sido adotado por uma família muçulmana vinda do Paquistão quando ainda bebê e seu nome nos primeiros meses era Solly Shimshillewitz.
Com uma trilha sonora cheia de clichês, mas adorável e um roteiro rico em detalhes e piadas escrito pelo comediante David Baddiel, o filme ironiza questões como a velha história da comunidade judaica ser fechada , ou a mania de perseguição das minorias. Além disso, a comédia é coberta por sarcasmos e, talvez por isso, não agrade todos os ortodoxos, mas com certeza as excelentes atuações de Omid Djalili e Richard Schiff farão muitos filhos de Ashém e Alá rirem de si mesmos.
Sempre de forma bem humorada, se desenvolvem ao longo da trama algumas críticas ao fundamentalismo, tanto do lado muçulmano, quanto judaico, mas o único fato que me chateou como judia foi quando Mahmud queima a quipá – importante símbolo da religião judaica – que estava em sua cabeça para disfarçar na frente dos fervorosos islamitas. Essa cena pode ser conferida no trailer oficial, que por sinal é muito bem editado! Enfim, brincar com religião sempre foi bastante complicado, mas comédia é comédia em qualquer lugar e quem gosta do gênero já deve esperar por ironias e sarcasmos o tempo todo. O fundamentalismo, em qualquer religião, instiga o ódio às diferenças, defende o excesso de poder de uns sobre outros e venda os olhos das pessoas para a razão. Por isso, penso que o filme além de divertido é também uma aula de tolerância religiosa.


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