O universo Marvel, reinventado a partir do primeiro filme do Homem de Ferro, preenchido com as novas adaptações de Hulk e Thor e à espera do Capitão América, aposta na conexão entre as histórias através de determinados fatos que, juntos, culminarão no projeto final, o aguardadíssimo Os Vingadores. Mas eis que, em oposição às renovações dos seus principais super-heróis, a Marvel reconstrói, em separado, uma de suas maiores e mais lucrativas séries: Os X-Men voltam, dessa vez em formação, no enérgico e vigoroso X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, Eua, 2011). Um prato cheio para os fãs.
A iminente crise dos mísseis de Cuba, travada por uma ameaça de guerra nuclear entre a U.R.S.S. e os EUA é responsável por selar a parceria de Xavier (James McAvoy) e Erik Lehnsherr (Michael Fassbender), que, em seu primeiro ato, apostam na formação da primeira classe de mutantes, a partir do desenvolvimento de uma máquina de expansão telepática criada pelo ainda jovem Hank McCoy (Nicholas Hoult). O recrutamento, com o crivo da percepção psicológica precisa de Xavier e a capacidade de reconhecer talentos de Magneto, já determina que, invariavelmente, os dois amigos seguirão caminhos opostos.
As batalhas travadas entre Magneto e Prof. Xavier pelo posicionamento dos mutantes frente à sociedade nos três primeiros capítulos da série dão lugar à gênese dos seus próprios personagens que, por motivos distintos, compreendem a necessidade de revelar ao mundo a existência de seus iguais. A parceria, a priori mantida a partir de um objetivo em comum, revela-se, ao fim, um argumento prodigioso para que o movimento inicial de proteção aos mutantes já aconteça com oposição de ideais, a partir da interferência do responsável por incutir em Magneto o preconceito calcado em ideais de raça, o nazista Sebastian Shaw (Kevin Bacon).
A árdua missão de criar a prequência dos X-Men caiu no colo do promissor e muitíssimo competente Matthew Vaughn, responsável pelo anárquico e divertido Kick-Ass – Quebrando Tudo. Matthew aposta nas referências a filmes de aventura da década de 60, correlacionando o momento histórico do filme com um estilo didático, mas carregado de uma tensão psicológica precisa, desenvolvida a partir de uma fotografia esteticamente perfeita e de uma trilha sonora retrô. A grande surpresa, entretanto, está na incursão de uma ironia e de um humor preciso relacionados, quase sempre à figura inspirada de James McAvoy na pele do ainda inexperiente mas muitíssimo pretensioso Prof. Xavier.
Se a guerra entre mutantes e sociedade dos três primeiros capítulos baseava-se numa ambivalência quase política, a força de X-Men: Primeira Classe está no universo complexo que é embate entre raças, pois, de certa forma, o mundo dos mutantes compreende uma minoria que, unida, torna-se muito mais poderosa do que exércitos completos. O cinema independente, enfim, começa a dar lições à toda poderosa Hollywood. A discussão social e a reinvenção de estilo e estética passam, antes de tudo, pelo experimentalismo que, agora, parece tocar os portões dos estúdios. Que assim seja.
