Com doze longas-metragens no curriculum e vinte e cinco anos de história, a Pixar é hoje o estúdio mais criativo do cinema americano. A sequência ininterrupta de animações vencedoras de Oscar e capazes de unir diversão, reflexão e um cuidado estético preciso é um efeito único na história do cinema: os filmes da Pixar estão, quase todo ano, nas listas dos melhores da temporada. Fato que, provavelmente pela primeira vez, não irá se repetir em 2011. É que Carros 2 (Cars 2, Eua, 2011), a mais nova aposta do clã John Lasseter, é apenas razoável. E em comparação ao que já era esperado, é uma decepção.
A marra e o carisma do Relâmpago McQueen estão de volta, mas, com quatro títulos de Copa Pistão na bagagem, o carro de corrida mais famoso dos Estados Unidos agora é reconhecido mundialmente pelo seu talento nas pistas. E em seu retiro habitual de fim de temporada na pacata Radiator Springs, McQueen é convidado por um empresário do ramo de combustíveis alternativos para um Grand Prix pelo mundo junto aos maiores corredores das principais categorias. E pela primeira vez desde sua chegada à Radiator Springs, McQueen decide levar Tom Mate, o guincho enferrujado, - e seu melhor amigo - para integrar sua equipe na competição.
Eis que em meio à chegada de McQueen ao lançamento da competição, uma trama que envolve o embate entre combustíveis fósseis e alternativos, espionagem e máfia, coloca um espião britânico na busca pelos responsáveis por uma conspiração que pode não só pôr em risco o Grand Prix como ameaçar a segurança mundial. E é quando o papel coadjuvante básico de Tom Mate de melhor amigo do Relâmpago dá lugar a um protagonismo inesperado, transformando o inocente caipira de Radiator Springs em responsável direto pelo destino da segurança do Relâmapago e dos outros corredores do Grand Prix.
A mudança de protagonismo, ainda que inovadora por parte dos roteiristas de Carros 2, acaba se tornando incômoda após certo tempo de filme, pois, considerando o personagem de Tom Mate, sua graça estava, de fato, na capacidade de incorporar a McQueen fatores ausentes na personalidade de um carro de corridas ganancioso. Com os olhares voltados para o desdobramento de sua personalidade, Mate torna-se um personagem chato, extremamente inocente e sem força para conduzir o filme até o fim. Detalhe que, reforçado por um paralelismo de histórias (a trama de espionagem e o Grand Prix em si), apenas contribui para o desânimo do espectador.
Entre todos os erros de roteiro e a incapacidade da Pixar de manter-se fiel a seu próprio padrão de excelência, há, é claro, destaque para a concepção visual de Carros 2. É um filme belíssimo, com reconstruções perfeitas de Tóquio, Londres, Paris e da Riviera Italiana. Nada que salve da decepção, pois, em se tratando de Pixar, é até arriscado apontar o pior filme da história do estúdio. Mas se há um candidato para tal posto, nesse momento, é a volta de McQueen e o protagonismo enjoado de Mate. Uma pena.
