Sete livros; sete horcruxes; sete irmãos Weasley; sete andares em Hogwarts; sete galeões para comprar uma varinha; sete posições no jogo de quadribol; sete membros da Ordem da Fênix acompanhando sete Potters – e o fim. Catorze anos e uns dias desde o lançamento do primeiro capítulo de uma ficção infanto-juvenil que revolucionaria as referências de uma geração. E que encerra-se com o sabor agridoce de um adeus que compreende uma das fundações da cultura pop desse novo século. Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte II (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part II, EUA, 2011) é o desfecho de um épico; e, obviamente, faz jus à sua classificação: o último ato de Harry é um clássico instantâneo.
O ponto de partida baseia-se nas consequências da fuga de Harry, Rony, Hermione, Olivaras, Luna Lovegood, Grampo e Dobby da mansão dos Malfoy; e, após a morte de Dobby, Harry prepara-se para o próximo movimento na busca das horcruxes de Voldemort. A saída do Chalé das Conchas – casa de Gui Weasley e Fleur Delacour – só acontece após a decisão de Harry de conversar com Olivaras e Grampo a respeito de elementos decisivos para a destruição de Voldemort: as Relíquias da Morte, artefatos mágicos históricos, e uma horcrux em especial, que, como suspeitava Harry, estava escondida no banco de Gringotes.
As ações em Gringotes, ainda que importantíssimas para os planos de Harry, funcionam, antes de tudo, como condução para o movimento final de sua cruzada: a destruição das Horcruxes restantes e o confronto final na derradeira Batalha de Hogwarts. Sete foram os anos em que a ligação de Harry com o mundo mágico esteve entremeada pelo medo e desejo de vingança contra Tom Riddle, que, após tornar-se o poderosíssimo Lord Voldemort, assassinou os pais de Harry por acreditar em uma profecia que uniria seus destinos na vida e na morte.
O destino de Harry, já conhecido pela maioria dos fãs – sejam eles apenas os que acompanharam a saga nos cinemas ou os xiitas que aguardam ansiosamente qualquer novidade a respeito da série desde 1997 – é coroado com o filme mais obscuro, mais humano e mais dramático de toda a série. A força desde capítulo final está concentrada em Harry e em sua jornada. Seus amores, medos, incoerências, equívocos e acertos estão dispostos em um plano íntimo – não se trata apenas de um finale digno de uma série de sucesso nos cinemas: é o fim de uma era. O fim de Harry para nós.
Atavismo, para além das palavras de dicionários que o definem como uma reminiscência de características de ascendentes remotos e que por muito tempo mantiveram-se ausentes, também é uma saudade do que nunca houve, mas que ainda assim manifesta-se inconscientemente em alguém. A despedida de Harry, para além dos livros e dos filmes e de tudo que há, causa, em nós, uma saudade do que também não tivemos: saudade do Salão Comunal, saudade de Hagrid e de sua cabana, saudade das tardes pós-exame regadas a suco de abóbora gelado. Saudade da carta que não recebemos. Que nossos onze anos voltem; que nos tragam, mais uma vez, uma passagem para além da plataforma 9 ½.
A IMPRESSÃO DE UM FÃ, por Guilherme Arcanjo*
Depois de tantos anos, uma era chegou ao fim. A tontura e o arrebatamento que encheram os fãs de um vazio inexplicável com o lançamento do último livro transformaram-se, enfim, em luto e tristeza. Mas de uma maneira espetacular. Foram catorze esperas, pra mim. Oito filmes e seis livros esperando, implorando para tê-los em mãos... e, finalmente, tudo acabou. Não haverá mais a impaciência que apenas quem acompanhou a saga ali, ao vivo, conheceu. Uma pena... Mas valeu a pena, também. O filme é sensacional, arrebatador e apaixonante. Põe um fim na saga sem perder o humor tradicional, a magia rotineira e com uma ação que eu nunca consegui sequer imaginar. Batalhas memoráveis, duelos fascinantes e, é claro, algumas incoerências para que nós não paremos de criticar a Warner tão cedo.
*[N.E.: Guilherme Arcanjo é um grande fã da série Harry Potter e for convidado especialmente pelo LixeiraDourada para assistir, com um membro de nossa equipe, à sessão do filme exclusiva para a imprensa e nos dar o relato sobre suas primeiras impressões.]
