segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Meirelles Te Faz Enxergar

Inicio esse post recomendando a (re)leitura do Post #046, da J. Lanes.

"Um filme muito independente." É com essa afirmação que começa Ensaio Sobre A Cegueira (Blindness, Brasil-Canada-Japão, 2008). Certamente o filme apresenta características de um filme independente: estreou em poucas salas, teve divulgação modesta, não consumiu o já baixo orçamento por inteiro e, principalmente, é uma obra de arte. Um fato conhecido de todos: a idéia das madeixas louras foi da própria Juliane Moore, que as tingiu contra a vontade do diretor e contribuiu imensamente para o filme, que não teria ficado tão belo com o contraste ruivo.


Digirido pelo brasileiro Fernando Meirelles (de Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel), Ensaio é também uma produção multinacional, que vai muito além do trio de países indicados oficialmente. A equipe conta também com atores e técnicos americanos, mexicanos e uruguaios, além dos brasileiros, japoneses e canadenses. E alguns diálogos são em japonês, não se assustem. Aliás, o susto vem pela beleza que está em torno do longa. Sem dúvidas o filme é uma aula de cinema, com lindos exemplos de fotografia, iluminação, figurino, cenários, ângulos, edição, som e, é claro, música.

Aliás, a música merece um destaque extra. Perfeitamente colocadas, as canções estão o tempo todo demarcando as tensões, ironias e subjetividades que o filme absorveu perfeitamente do livro. Prestem atenção em Gael García Bernal cantando "I Just Called To Say I Love You", do Steve Wonder. Não só por ser inusitado, mas é que custou US$ 30 mil. (Fico imaginando a cara do músico durante a proposta. "Tão querendo usar uma música sua num filme." "Ah sim, sem problemas, qual música?" "I Just Called..." "Tá,tá... tudo bem, claro. Qual é o filme?" "Blindness?" "Cê tá de sacanagem comigo, né? "Não, é sério... Mas só querem usar um trechinho pequeno." "Trinta mil.")

É muito difícil destacar tudo que o filme tem de bom. Gostaria de saber qual foi o real motivo do muxoxo feito pelos críticos franceses em Cannes. Só pode ser inveja! Devem ter achado que era um francês que tinha que ter feito... Mas não estou sozinho quando elogio o filme, e não sou do time que faz isso só pra puxar o saco do brasileiro. É certo que nenhuma adaptação é perfeita, mas de todas que já vi, tendo lido o livro antes, essa é que chega mais perto. Não sou só eu que digo isso também. Vejam a reação do autor do romance, o português José Saramago, ao assistir o filme pela primeira vez. Mas já vou avisando: é arrepiante.

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