quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CADERNOS DO CINEMA: A Era Da Inocência

“Uma história sobre a perda da inocência e a descoberta da realidade”. Essa frase estampa a capa do DVD do filme “O Menino do Pijama Listrado”, de Mark Herman, baseado no livro homônimo de John Boyne. No entanto, acho um pouco mentirosa essa afirmação. Primeiramente, não há perda da inocência; a infância, os sonhos pueris e os desejos puros estão presentes todo o tempo na vida de Bruno, um menino de oito anos. Ao se mudar de Berlim para uma casa – perto de uma “fazenda” com pessoas “estranhas que usam pijamas o dia inteiro” – o garoto se vê sem seus amigos e, mesmo vivendo no campo, seus espaços são limitados. E, para um menino que quer ser um explorador, isso é um desafio a ser superado.

Poster

A trama se desenrola paralelamente entre o dia-a-dia de Bruno e a dita “realidade” pela qual sua família vem passando (seu pai é o comandante da “fazenda”; sua mãe, uma dona de casa que teme pelo bem-estar dos filhos; sua irmã, uma nazistinha de doze anos que fica afim do soldadinho que toma conta da casa). Os dois valores, o do mundo infantil e o do mundo adulto, são postos lado a lado de modo que a realidade, nos valores adultos, sejam completamente distorcidos e errados para quem ainda tem um pouco de inocência.

1

Bruno não perde sua inocência. Não se descobre a realidade por meio da perda da inocência. A realidade é distorcida por meio da influência, seja ela pela figura do pai, dos soldados ou do professor. E, em busca de seus sonhos e na construção da amizade com o menino do pijama listrado da fazenda, Bruno nos mostra que chegamos ao real buscando nossas fantasias. O resto é burburinho de pessoas que não sabem de nada.

2

Shmuel, o personagem-título, tem a esperança de continuar vivendo graças à sua amizade. Ele é mais calejado que Bruno, ele passa por situações desumanas. Com isso, muitas pessoas podem criticar a ingenuidade de Shmuel ao não aproveitar dessa amizade para fugir do campo de concentração. Mas, na verdade, Shmuel vê que sua vida é melhor com os encontros com Bruno, e nada mais é necessário.

3

Com uma direção clássica, “O Menino do Pijama Listrado” tem atuações muito boas, principalmente de Vera Farmiga (agora em Amor Sem Escalas), a mãe de Bruno. O filme não marca por ser um dramalhão de cair no choro, nem por ser mais uma história do holocausto na Alemanha Nazista. Ele pesa. E pesa como um pedregulho que cai sobre valores que temos sobre a amizade, educação, família e, principalmente, como a inocência pode abrir os olhos para a realidade.
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