Texto publicado originalmente no blog CADERNOS DO CINEMA em 21 de outubro de 2009. Clique AQUI para ler o post original.
O novo filhinho da Disney/Pixar arrancou suspiros de vários blogueiros e críticos de cinema. Dentre eles, eu mesmo. Chorei. Chorei muito, nossa, de a voz tremer ao sair da sessão. O filme é lindo, a história é uma lição de vida com personagens carismáticos (o velhinho, o escoteiro gordo, o bichinho que deve ser protegido e o cachorro babão). Daí você espera um pouco o efeito do filme passar e vê: era um filme da Disney. D-I-S-N-E-Y! Três horas mais tarde, eu tinha lembrado de tudo o que eu detestava chez Disney: tradicionalismo de valores (casamento/casinha/pureza), emoção fofinha, desumanização dos personagens ligados à modernidade (executivos são todos maus e frios), maniqueísmo, relacionamento entre personagens super estranhos entre si (A Bela e a Fera e cia) causando aquele sentimento de amizade pura e incondicional, dando a famosa lição de moral de que devemos ser pessoas íntegras e humanas – tudo isso com a estética hipnotizante já conhecida. Fórmula conhecidíssima. E a gente sempre cai nela. Sempre achei isso tudo muito hipócrita, a Disney é uma indústria que faz praticamente lavagem cerebral nas criancinhas pra elas comprarem os filmes, games e bichinhos de pelúcia.
Ok, essa digressão foi para aguçar um pouco nosso senso crítico em relação à indústria cinematográfica. Entretanto, o filme tem pontos essenciais. Um: o protagonista é um velhinho. Dois: sua vida passa e ele nunca realiza sua grande aventura. Três: quando ele fica velho e está prestes a aceitar a chegada do fim da sua vida, ele assume uma atitude de retorno à infância. Isso se torna uma mensagem nietzschiana da metamorfose humana traduzida para o espectador. O homem como camelo, que carrega sua corcova sem reclamar; como leão, que quebra com sua vida de camelo e vira fera; e, por fim, como criança, que assume uma nova infância, o começo de uma nova vida. E eu realmente acho esse percurso essencial em cada decisão de nossas vidas.
Vi isso a duas poltronas da minha no cinema: uma senhora com dificuldade para andar, sendo ajudada por uma outra mulher, esta de meia-idade, vendo o filme. Curioso, olhava para ela quando eu já tinha enxugado minhas lágrimas. Seu semblante era grave, como se refletisse sobre algo muito sério. Bem, talvez ela não estivesse entendendo tudo, já que sua acompanhante sussurrava-lhe coisas no ouvido volta e meia. Mas achei interessante esse efeito.
Mais do que o exemplo de relação entre idosos e crianças (louvável) e a busca da realização de sonhos, o filme trata de aceitar viver. Aceitar começar mesmo quando parecer não haver expectativas. Todos os gestos, todas as pequenas ações podem ser recicladas para outras finalidades. Uma reflexão humana, complementando o outro viés de humanização de Wall-E.
Filmes da Disney sempre foram clássicos da minha geração. Eu, manteiga derretida que sou, sempre procurava evitar esses filmes para não sair chorando na frente de todo mundo. A gente cresce e vai sentindo uma atração maior pelos filmes da DreamWorks, tipo Shrek, que tem aquelas palhaçadas levemente ácidas e deliciosas que só gente grande entende. No entanto, depois de muito tempo, chega Wall-E, da Pixar, e toca nossos coraçõezinhos. Todos disseram que se tratava da melhor animação já feita. Até “Up – Altas Aventuras”.

O novo filhinho da Disney/Pixar arrancou suspiros de vários blogueiros e críticos de cinema. Dentre eles, eu mesmo. Chorei. Chorei muito, nossa, de a voz tremer ao sair da sessão. O filme é lindo, a história é uma lição de vida com personagens carismáticos (o velhinho, o escoteiro gordo, o bichinho que deve ser protegido e o cachorro babão). Daí você espera um pouco o efeito do filme passar e vê: era um filme da Disney. D-I-S-N-E-Y! Três horas mais tarde, eu tinha lembrado de tudo o que eu detestava chez Disney: tradicionalismo de valores (casamento/casinha/pureza), emoção fofinha, desumanização dos personagens ligados à modernidade (executivos são todos maus e frios), maniqueísmo, relacionamento entre personagens super estranhos entre si (A Bela e a Fera e cia) causando aquele sentimento de amizade pura e incondicional, dando a famosa lição de moral de que devemos ser pessoas íntegras e humanas – tudo isso com a estética hipnotizante já conhecida. Fórmula conhecidíssima. E a gente sempre cai nela. Sempre achei isso tudo muito hipócrita, a Disney é uma indústria que faz praticamente lavagem cerebral nas criancinhas pra elas comprarem os filmes, games e bichinhos de pelúcia.

Ok, essa digressão foi para aguçar um pouco nosso senso crítico em relação à indústria cinematográfica. Entretanto, o filme tem pontos essenciais. Um: o protagonista é um velhinho. Dois: sua vida passa e ele nunca realiza sua grande aventura. Três: quando ele fica velho e está prestes a aceitar a chegada do fim da sua vida, ele assume uma atitude de retorno à infância. Isso se torna uma mensagem nietzschiana da metamorfose humana traduzida para o espectador. O homem como camelo, que carrega sua corcova sem reclamar; como leão, que quebra com sua vida de camelo e vira fera; e, por fim, como criança, que assume uma nova infância, o começo de uma nova vida. E eu realmente acho esse percurso essencial em cada decisão de nossas vidas.

Vi isso a duas poltronas da minha no cinema: uma senhora com dificuldade para andar, sendo ajudada por uma outra mulher, esta de meia-idade, vendo o filme. Curioso, olhava para ela quando eu já tinha enxugado minhas lágrimas. Seu semblante era grave, como se refletisse sobre algo muito sério. Bem, talvez ela não estivesse entendendo tudo, já que sua acompanhante sussurrava-lhe coisas no ouvido volta e meia. Mas achei interessante esse efeito.

Mais do que o exemplo de relação entre idosos e crianças (louvável) e a busca da realização de sonhos, o filme trata de aceitar viver. Aceitar começar mesmo quando parecer não haver expectativas. Todos os gestos, todas as pequenas ações podem ser recicladas para outras finalidades. Uma reflexão humana, complementando o outro viés de humanização de Wall-E.
