sábado, 20 de fevereiro de 2010

CADERNOS DO CINEMA: Cinema Italiano (?)

Texto publicado originalmente no blog CADERNOS DO CINEMA em 1º de fevereiro de 2010. Clique AQUI para ler o post original.

Definitivamente é um filme que só de saber que vai estrear já dá um frisson, um tesãozinho de “ai, um musical da Broadway baseado em Fellini cheio de atrizes fantásticas!” Pois bem, o ruim de criar uma expectativa muito grande é que a gente pode quebrar a cara. Nine tem um pouco disso, mas também tem surpresas agradabilíssimas: uma estética impagável, com alternância entre o colorido e um preto e branco bem granulado, típico dos filmes italianos dos anos 50; iluminação consistente; um grand finale de tirar o fôlego; e uma moça. Só uma vale o filme inteiro. Mas, como eu gosto de fazer suspensezinho, vamos continuar a desenrolar o carretel.


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Pesquisei muito sobre gente que viu a versão da Broadway, gente que amou o filme e outros que odiaram e saíram antes do fim... Mas, depois que eu vi a primeira foto da Penélope Cruz, pensei “cara, deve ser lindo isso” e fiquei super-empolgado até ver como o Guido Contini é chato. O cara fica cheio de crise, fumando que nem uma chaminé, só quer saber de sexo e nada de trabalho... parece um playboyzinho, só quer fama, sair bem na fita, dirigir seu carrão e, como ele mesmo diz, sua idade mental beira os dez anos. Um herói com quem muita gente vai se identificar. Só faltava ir pra baile funk.

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Então aparece Penélope, a amante, com um número bem legal, plasticamente perfeito, musicalmente OK. E então vem Judi Dench, a amiga, com seu sotaque francês contradito pelos seus ditongos ingleses – e ela não canta, ela declama os versos da música; Fergie, a prostituta da infância, com aquele vozeirão americanamente exagerado, mais próximo do American Idol do que de um musical; Marion Cotillard, a esposa, com seu primeiro solo – música insuportável; Kate Hudson, a jornalista piriguete, quase carioca zona sul com uma música não exatamente boa, mas que pega – num trabalho de câmera de videoclipe de mau-gosto, convenhamos; Sophia Loren, la mamma, a única coisa realmente da Itália com uma aparição tão expressiva quanto Reynaldo Gianechinni em Laços de Família; Nicole Kidman – pausa pro “caramba, essa mulher implantou 350ml em cada lábio, não é possível” – numa outra música chata, bancando a musa que quer ser vista como ser humano; e, por fim, o segundo solo de Marion, esse sim, vale a pena!

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A trama de Nine é mínima. Esse resumo da ópera mostra como as personagens são rasas e arquetípicas. O filme se baseia na apresentação das mulheres da vida de Guido e o enlace e desenlace se dão muito próximos, além de ter personagens demais na adaptação – até agora não entendi muito a relevância do papel de Kate Hudson. As estrelas não brilham pelo tempo dividido entre muitas, então elas se ofuscam. Daniel Day-Lewis se sobressai por, sei lá, carisma, pois seu personagem não parece ser tão difícil de ser montado – e seu sotaque italiano, bem, deixemos isso de lado.

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Espera um pouco. Se as músicas de um musical já não são assim, uma Brastemp, e o protagonista ganha a cena por ser o Daniel Day-Lewis, por que isso vale duas horas da sua vida? O grande trunfo de Nine é – que ruflem os tambores – Luisa Contini, a personagem de Marion Cotillard. Ela rouba a cena das demais e, principalmente nas cenas de flashback e no seu segundo solo, a respiração do espectador vai ser hipnotizada. Ela traz o som e a fúria do teatro para a tela grande, seus olhos enchem e inebriam a cena com sua angústia e seu amor, sempre de uma maneira muito sutil (basta comparar com Nicole Kidman).

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Vale a pena ser visto: as panorâmicas da Itália são lindas, a abertura de pernas da Penélope é incrível e, no final, a gente vai ficar cantarolando “Cinema Italiano”, a música que fecha o filme na voz de Kate Hudson. Ah, taí a relevância do papel dela!



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