
Muita gente evita filmes orientais por considerarem demasiadamente esquisitos ou excessivamente loucos. Essas pessoas têm toda a razão, não pelo fato de evitarem esses filmes, mas pelos motivos pelo qual o fazem. Uma boa dica para quebrar esse preconceito é o interessante O Clone Volta Para Casa (“Kurôn Wa Kokyô Wo Mezasu”), que esteve na Seleção Oficial da Mostra de São Paulo de 2008 e do Festival de Sundance 2009. Mas se você é daquele que só assiste a filmes que tenham algum nome famoso (e ocidental) nos créditos e nada que eu escreva aqui pode mudar isso, eu te dou esse nome: o produtor executivo do filme é o premiadíssimo alemão Wim Wenders, realizador de trabalhos fantásticos, como “Paris, Texas” (1984), “Buena Vista Social Clube” (1999) e do videoclipe “Stay (Faraway, So Close)”, do U2.

O filme conta a história de Kohei Takahara, um astronauta que decide fazer parte de um experimento após a morte de um colega em um acidente espacial inexplicado. Esse experimento armazena as informações genéticas e mentais de Takahara para que, no caso de uma morte acidental, um clone possa ser produzido e ele possa recuperar sua vida a partir do ponto exato em que as informações oram coletadas. E, adivinhem, logo depois ele também sofre um acidente fatal e seu duplo precisa ser ativado. No entanto, o fato do astronauta ter perdido o irmão gêmeo na infância causou um trauma que acaba interferindo no processo de recuperação das memórias, e o clone “surta” ao encontrar o corpo do astronauta morto, pensando que ele é o irmão gêmeo.
Ao constatar o erro, a empresa que faz os clones decide fazer um terceiro Takahara e eliminar o “produto” defeituoso, jogando o filme em uma discussão ética sobre a existência (ou não) de uma alma, o que aconteceria com o espírito após a morte, se fizéssemos esse clones e, principalmente, se eliminar o ser construído por ele seria assassinato ou apenas o cumprimento do contrato, que, como qualquer outro contrato de compra e venda, dá certas garantias contra defeitos de fabricação. Além da trama envolvente, o filme tem outros méritos, como uma fotografia bem justificada, excelentes atores e uma montagem impecável.
