
Logo no início ela deixa claro: “Se abríssemos as pessoas, encontraríamos paisagens. Quanto a mim, se me abrissem, encontrariam praias”. Grande nome do cinema, representante feminina entre grandes como Godard e Truffaut, Agnès Varda se apresenta em “As Praias de Agnès” (Les Plages d’Agnès, França, 2008) em um auto-documentário que explora com graça e simplicidade um pouco da sua vida, desde a infância, ao longo dos seus 81 anos. Caminhando de costas em uma analogia ao “voltar no tempo”, deixa nas telas um pouco de sua paixão pela sétima arte.
Premiado pela Academia Francesa de Cinema com o César de melhor documentário, o filme fantasia e reinventa, colocando o passado além da nostalgia. Com encenações de pequenos fragmentos de sua história, fotos e imagens de arquivo, a cineasta conta desde sua época de menina em Bruxelas, na Bélgica, onde nasceu, até a chegada a França, país que a encantou e ela acolheu como seu; o marido Jacques Demy e seu amor incondicional, que permitiu com que ela fizesse um filme enquanto ele estava doente (comentado também em “Janela da Alma”) e sua relação com as imagens, da fotografia ao cinema.
Com espelhos voltados para o mar, uma trupe de circo na praia, os amantes de Magritte e a baleia de Jonas, Agnès se descontrói em cores e fantasias que passam claramente pelo surrealismo, suas ondas na praia e a vanguarda da nova onda (Nouvelle Vague). Desde Cléo de 5 às 7 (Cléo de cinq à sept, França/Itália, 1962), com uma profunda análise sobre o tempo psicológico e o tempo real, ela consegue emocionar com o mínimo e a simplicidade de quem colocar amor em tudo que faz.
