O atual sistema capitalista é uma rede de eternas crises, superações e evoluções. Porém, nada seria possível se em sua base não estivesse estruturado o incansável e insaciável motor de todas as instituições corporativas: o lucro. Com um foco bastante audacioso e parcial (tendo a parcialidade como uma brilhante estratégia em sua construção), “The Corporation” (Canadá, 2003) é uma radiografia que vai além das fachadas e do mundo do marketing, passando pela manipulação das mídias, desvendando reais interesses e concentrando seu olhar na verdadeira política administrativa das grandes empresas.
Realizado em 2003 pelos diretores Mark Achbar, Jennifer Abbot e Joel Bakan, o documentário descontrói a ideia de que a podridão do universo corporativo é pontual e presente apenas em unidades isoladas. A metáfora utilizada por George W. Bush, em sua afirmação quanto a existência de “maçãs podres”, é aproveitada como ponto de partida para a elaboração deste filme que é apoiado por outras diversas e sensacionais metáforas em seu decorrer. Da mesma forma, a análise das corporações como unidades vivas, patologicamente classificáveis, desencadeia a lógica de suas atitudes abusivas e imorais de sobrepor a ambição às limitações da da lei, da natureza e da equipe de funcionários.
“The Corporation” deixa claro que a onipresença e o poder dessas organizações ditam estilos de vida e moldam desejos e gostos de acordo com a necessidade do mercado e as vontades da economia. Impulsionados por uma interminável sede ambiciosa, é perceptível que há sempre uma forma de lucrar, até mesmo nas situações mais adversas, equilibrando essa balança na qual as consequencias não ganham peso. Com este comportamento doentio, movimentam e controlam a sociedade como um eterno adestramento para o consumo.
Com quarenta entrevistas poderosas e imagens que constroem desde panoramas históricos até ironias contemporâneas, este ganhador do Prêmio do público no Sundance Film Festival de 2004 é o que tem de mais consistente e atual sobre a realidade dessas hegemonias. Ácido e crítico, o documentário dá nome às maçãs e, magistralmente, coloca mais algumas frutas nesta análise cinematográfica.
