Como já dizia U2 (música: “City Of Blinding Lights”; álbum: “How to Dismantle an Atomic Bomb”), “The more you see the less you know” - Quanto mais você vê menos você sabe. O filme "Janela da Alma", dos diretores João Jardim e Walter Carvalho, aborda justamente esse tema, a visão do mundo sobre a percepção da realidade: a diferença entre ver e olhar, contrastando com a deficiência visual expressa num universo de imagens onde a atenção é cada vez mais dispersa.
Ambientados na vida e inseridos no mercado de trabalho, o filme acompanha a experiência de 19 pessoas com diferentes deficiências visuais, da miopia discreta à cegueira total, que vêem pouco, mas enxergam muito. Cineastas, fotógrafos, músicos, escritores, políticos, entre outros profissionais inválidos da visão, revelam suas relações com a sociedade e como percebem a realidade à sua volta. Será que vivemos ainda na câmara escura de Platão, vendo sombras e atribuindo sentido a elas?
%5B4%5D.jpg "Loopcitylights_by_lightandshadow(hldzmix)")
“O olho é a janela da alma, o espelho do mundo” (Leonardo Da Vinci). Nossos olhos são passivos, mas muitas vezes simplesmente refletimos a imagem sem absorver um sentido, sem perceber o contexto. A visão é alterada pelos sentimentos, e pode ser construída por eles. Se a imaginação é o ato de olhar o invisível, a lembrança é a ação de rever essas imagens. Tudo isso passa por essa “janela”, basta não colocar grades nela.
Trabalhando excessivamente com a imagem – utilizando-se do foco e do embaçado, do zoom in e do zoom out, de um jogo de luzes constantes e um enquadramento atípico característico –, “Janela da Alma” brinca com os recursos tecnológicos para provocar a inquietação dos olhos, junto de sua percepção. Afinal, “what you see is what you get” – O que você vê é o que você obtém?
