Sua maratona começa sábado, às 10h, quando você acorda. Você levanta e coloca uma coletânea do Velvet Underground na sala. Lou Reed passeia com sua voz tônica em riffs simples. Você estava servindo o café quando ele começou a cantar "I met myself in a dream. I just wanted to say that everything is allright" e tentou lembrar do sonho que tinha acabado a pouco enquanto tomava os primeiros goles. Você simplesmente não lembrou de nada. Logo depois, quando já tinha acabado seu café e lido o jornal, o disco acabava com "It's Just Too Much": "You know it's too much, baby. And I just don't understand".
Você volta pro quarto e coloca "Cê", o disco de rock do Caetano. Você ouve "Walk on the wild side" em uma das faixas e acha estranha a coincidência. Na mesma música, lembra de "It's a long road". Deve ter algo de errado. O disco acaba com uma frase linda, "eu sou o herói, só Deus e eu sabemos como dói". Só o Caetano poderia escrever algo assim.
No final da tarde você coloca "Smokey Rolls Down Thunder Canyon", do Devendra Banhart. É como se uma coisa levasse à outra: primeiro Lou Reed, depois Caetano, agora Devendra. "Transa", do Caetano, é o disco preferido do Devendra. Você admira a porra-louquice do pessoal de Los Angeles. Rodrigo Amarante está no disco, Fabrizio Moretti também, e o Nick Valensi. É uma all-star band de indies. Eles passam o dia inteiro nas praias da California, fumando um baseado, chapados full time. Devendra canta em português, em espanhol e em inglês. Uma mistureba de altíssima qualidade.
Você entra no clima e sai pra lavar a alma.
Domingo o seu dia começa as 11h. Você coloca "Doolittle", dos Pixies, pra acordar. O semanário da NME considera este o segundo melhor disco da história. Black Francis começa o disco cantando seu amor por "Um Cão Andaluz", obra-prima do surrealismo, de Buñuel e Dalí. Você viu eles ao vivo num festival de música. Você chorou no show deles e sente aquela mesma sensação ao ouvir "Hey": "There must be a devil between us. We're chained". Kurt Cobain chamou o produtor do Pixies para gravar In Utero, o terceiro disco do Nirvana. Ele queria que sua banda soasse intensa como o Pixies.
Para acabar o fim-de-semana, você coloca o In Rainbows, do Radiohead. Você finalmente consegue digerir o disco. "Reckoner" é uma de suas canções preferidas. Você vai dormir tranquilo.
E de presente pro pai, "Axis: Bold As Love", o grande clássico do Hendrix. Sensação de missão cumprida.
É isso.
