Roteiristas preguiçosos insistem: entra ano, sai ano, nada é mais comum no cinema do que a repetição de fórmulas e, mais precisamente, de temas – todos já explorados em excesso mundo afora. E eis que, ao fim da primeira década do século XXI, uma dupla de realizadores franceses resolve nos trazer, mais uma vez, a história do homem aposentado que se vê perdido e sem rumo. E como se resolvesse, ainda procuram incutir um quê de estética do bizarro na tela. O resultado é o infeliz Mamute (Mammuth, França, 2010), que estreia nessa sexta no Brasil.
Começa da mesma forma: homem ativo e produtivo é forçado a entrar na aposentadoria e, de repente, deixa de encontrar sentido e razão para a bolha de casa-trabalho-casa com a qual estava acostumado. A solução para o imbróglio é também a tentativa de diferencial imposta por Gustave de Kervern e Benoît Delépine, roteiristas e diretores do filme: Serge (Gérard Depardieu), nosso protagonista, sai em busca de papéis que comprovem seus antigos empregos para que a aposentadoria, enfim, possa ser oficializada.
Repetições à parte, Mamute consegue ser razoavelmente interessante quando transforma em paralelo a saga de Serge e a própria resistência à aposentadoria. Os comprovantes da aposentadoria são o ponto final da vida produtiva de um homem que não procura o descanso do trabalho. E é cima de sua moto Munch Mammuth que Serge percorre o interior da França para confirmar um destino que não lhe agrada. E Serge, peludo, grande e desajeitado como um...mamute empresta – junto com sua montaria – sentido para a trajetória que sela seus destinos.
A jornada de Serge é, como não poderia ser diferente, uma redescoberta de seu passado e um reboot de seus valores. Logo, antigos patrões, lugares esquecidos, amigos e família misturam-se para embaralhar o sentido da vida de Serge e reorganizar seus sentimentos e objetivos. O clichê, felizmente, ainda consegue trazer o que há de melhor em Mamute, pois, a partir dos reencontros, Gérard Depardieu consegue, enfim, uma atuação digna de seu talento. Nada sublime, mas bastante eficiente. Bastante diferente do comodismo e interpretações de si mesmo dos filmes anteriores.
O cinema francês parece condenado a uma dúvida que com o passar dos anos se torna cada vez mais constante: a questão do estilo. Dos cinemas mais comerciais do mundo, talvez seja o francês o mais carente de transformação e heterogeneidade. Os temas trafegam na mesma direção, o atavismo e os dramas pessoais são quase os mesmos, e salvo algumas exceções como o recente O Profeta e o brilhante Inimigo Público Número 1, ainda recorrem à necessidade de reforçar os clichês do cidadão francês comum. Liguem os alarmes. Já é um começo.
