quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Pisando no Preto e Branco

A primeira experiência de Eryk Rocha com um longa ficcional revela muito mais do que a herança carregada do estilo seu pai, Glauber Rocha (Deus e o Diabo na Terra do Sol). "Transeunte" (Rio de Janeiro, 2010), deixa claro que o talento para o audiovisual também é coisa de família.

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O filme narra a história de Expedito, um aposentado que transita solitário pelas ruas do Rio de Janeiro. Enquanto caminha, é consumido por lembranças e afunda lentamente em suas percepções íntimas. A velhice, morte da esposa e falta de filhos torna ainda mais forte a posição do personagem diante de uma realidade que se reflete inúmeras vezes nas vidas que passam despercebidas no ritmo acelerado da cidade. Ele é apenas mais um que transita por esse deserto urbano.

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O longa incomoda ao forçar uma reflexão da existencia do lado de fora, das histórias e opiniões que se escondem em cada passante, em cada corpo que se move quase industrialmente pelas ruas. Ideias de opinião e crença apontam sempre para uma busca de identidade no meio de um povo cada vez mais distante, tentando se redescobrir entre suas singularidades e coletividade. Toda essa discussão intremeada em uma sociedade que tenta se reformular constantemente e segue padrões maquinários. A vagareza de Expedido entra em choque com o mundo que o cerca.

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O filme trabalha com a contemplação das formas, da sombra, e opta pelo preto e branco na evidencia de contrastes. Essa técnica faz com que a produção consiga unir ainda mais a metáfora proposta com o bruto visual da película. O jogo de texturas e tons revela uma bela fotografia, bem pensada e aproveitada nos detalhes. A obra chega a ser quase uma brincadeira ao estímulo dos principais sentidos confrontados pelo cinema. Além da preocupação visual, a trilha sonora conduz delicadamente o ritmo da história e causa uma percepção nervosa.


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Com Transeunte, Eryk aposta em um roteiro quase sem falas, mas que pode florar no emocional por sua qualidade artística. O diretor passa para uma nova fase em sua carreira que certamente dará um novo destaque ao seu trabalho. Ainda falta um pouco para Eryk consolidar uma identidade profissional, mas os passos são largos.

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