A vida pode escorrer por entre os dedos. Assim como o sangue da vítima ou o nosso próprio. Tudo depende, sem nos darmos conta, de nós mesmos. Alguns "cinemas" reinterpretam muito bem a linha entre vilania e redenção. Aonde uma pode não anula a outra, mas redefine significado de símbolos e reescreve a trajetória de um ser humano, ou pelo menos o seu fim.
Pietá ("Pietá", Coréia do Sul, 2012) é a última obra do exímio diretor coreano Kim Ki Duk (mente por trás do épico Bin-jip). O filme dividiu opiniões e pessoas ao meio, deixando a maioria em cima do muro entre os conceitos de admiração e esnobe.
O filme tem sua cerne inspirada na escultura de Michelangelo homônima à película. E conta a história do frio e cruel - a redundância é proposital - Gang-do (Jeong-jin Lee), um cobrador dos pagamentos de pequenos empréstimos feitos por trabalhadores humildes de sua região. Até essa parte da descrição, nada demais, se não fosse pela maneira como ele cobra os pagamentos. - Tudo muda quando uma mulher aparece alegando ser sua mãe (Min-soo Jo), que um dia o abandonou.
A narrativa deixa um gosto agridoce na boca. Um pouco do efeito de filmes como esse, e Amour, por exemplo. Aquela mistura que pode ser deliciosa ou completamente amarga. Não pelos extremos da degustação, pura e simplesmente pela sensação de identificação e empatia com o personagem principal quando este é tudo, menos um exemplo a ser seguido e/ou amado. - Uma obra para reflexão, mesmo esta propositalmente não se propor a isso.
