
Considerada a obra-prima do
cineasta mexicano Guillermo Del Toro, Cronos
(“La Invención de Cronos”, 1992, México) nos apresenta uma releitura bem
peculiar da vida de Jesus Cristo. O filme, primeiro a ser dirigido por
Guillermo, mostra-nos uma invenção do século XXVI, um artefato dourado, que
traria a imortalidade. Encontrado por um antiquário chamado Jesus Gris (cinza
em espanhol), protagonizado por Federico Luppi, especializado em esculturas
feitas em madeiras, temos a primeira referencia sobre o Cristo e sua formação
como carpinteiro.
Jesus Gris (cinza) é a versão
humanizada da divindade do catolicismo. O gris
vem da união entre o branco, que simboliza a pureza, a inocência, a
santidade e o preto da morte, do luto, do terror. Trata-se de um Jesus composto
pelos dos lados, como uma espécie yin-yang
equilibrando as duas forças. Assim como pode ter pensamentos e ações tenras,
também é capaz de nutrir sentimentos negativos como a ambição.
O tal artefato é encontrado
dentro de uma escultura angelical, como se um arcanjo viesse anunciar a imortalidade
e a “missão” da vida de Gris. A tentação feita por Lúcifer é retratada por um
rico empresário debilitado e portador de uma doença degenerativa que, de todos
os modos, tenta convencer Jesus, o do Guillermo, a negociar a “vida eterna”.
Não vemos a crucificação,
mas temos o assassinato e, após um curto espaço temporal, a “ressurreição”. A
descida à mansão dos mortos é dada pela ida de Jesus ao quarto do empresário –
situado no subsolo de uma fábrica chamada De
La Guardia. Nessa empreitada, outro simbolismo é a pequena Aurora (Tamara
Shanath) – novo amanhecer -, simbolizando a pureza, a bondade, o estado
anterior ao pecado protegendo Jesus. Outro aspecto curioso da criança são as
vestimentas em tons vermelho, o sangue de Cristo, o amor, a paixão e o azul, o céu,
a eternidade sempre retratados pelas imagens bíblicas.
Cronos
é
o primeiro trabalho de Guillermo Del Toro como diretor e já mostra as
características marcantes. Um filme de terror tendo elementos bíblicos é, no
mínimo, ousado. Se é sua obra maestra cabe
ao espectador avaliar, mas não me surpreende ele fazer parte da lista dos
maiores filmes do cinema mexicano, segundo a revista Somos.