terça-feira, 19 de março de 2013

Um Jesus Cinzento


Considerada a obra-prima do cineasta mexicano Guillermo Del Toro, Cronos (“La Invención de Cronos”, 1992, México) nos apresenta uma releitura bem peculiar da vida de Jesus Cristo. O filme, primeiro a ser dirigido por Guillermo, mostra-nos uma invenção do século XXVI, um artefato dourado, que traria a imortalidade. Encontrado por um antiquário chamado Jesus Gris (cinza em espanhol), protagonizado por Federico Luppi, especializado em esculturas feitas em madeiras, temos a primeira referencia sobre o Cristo e sua formação como carpinteiro.


Jesus Gris (cinza) é a versão humanizada da divindade do catolicismo. O gris vem da união entre o branco, que simboliza a pureza, a inocência, a santidade e o preto da morte, do luto, do terror. Trata-se de um Jesus composto pelos dos lados, como uma espécie yin-yang equilibrando as duas forças. Assim como pode ter pensamentos e ações tenras, também é capaz de nutrir sentimentos negativos como a ambição.


O tal artefato é encontrado dentro de uma escultura angelical, como se um arcanjo viesse anunciar a imortalidade e a “missão” da vida de Gris. A tentação feita por Lúcifer é retratada por um rico empresário debilitado e portador de uma doença degenerativa que, de todos os modos, tenta convencer Jesus, o do Guillermo, a negociar a “vida eterna”.


Não vemos a crucificação, mas temos o assassinato e, após um curto espaço temporal, a “ressurreição”. A descida à mansão dos mortos é dada pela ida de Jesus ao quarto do empresário – situado no subsolo de uma fábrica chamada De La Guardia. Nessa empreitada, outro simbolismo é a pequena Aurora (Tamara Shanath) – novo amanhecer -, simbolizando a pureza, a bondade, o estado anterior ao pecado protegendo Jesus. Outro aspecto curioso da criança são as vestimentas em tons vermelho, o sangue de Cristo, o amor, a paixão e o azul, o céu, a eternidade sempre retratados pelas imagens bíblicas.


Cronos é o primeiro trabalho de Guillermo Del Toro como diretor e já mostra as características marcantes. Um filme de terror tendo elementos bíblicos é, no mínimo, ousado. Se é sua obra maestra cabe ao espectador avaliar, mas não me surpreende ele fazer parte da lista dos maiores filmes do cinema mexicano, segundo a revista Somos.
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