sexta-feira, 13 de julho de 2012

Walter Salles Caminhando Na Estrada

Chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira Na Estrada (“On the Road”, Brasil/França, 2012), o novo filme de Walter Salles, baseado no romance “On The Road”, de Jack Kerouac. Na semana passada, o diretor esteve presente no Rio de Janeiro ao lado da atriz Alice Braga para nos contar um pouco mais de sua trajetória com o filme e de como “a estrada ainda será longa” com estreias ao redor do mundo até o fim do ano.

Foto - Monaliza Marquez

“O livro descreve toda uma epopeia que começa em 1947, no pós-guerra de uma sociedade americana que tinha vencido uma batalha contra o nazismo. Começava um processo de industrialização acelerada, mas também o Macarthismo, a cultura do medo e a ideia de que você deveria casar, ter dois filhos e trabalhar de nove às cinco. O país precisava de mão de obra para esse novo modelo econômico”, contextualiza Walter Salles, que acha curiosa essa geração de escritores formada por filhos de imigrantes e comenta que Kerouac só começou a falar inglês com sete anos, sendo filho de imigrantes do Québéc, Canadá. “Era uma nova geração que olhava para o país de uma outra forma e não encontrava espaço. Por isso colidiu com ele”.


A história fala muito do desejo de quebrar os tabus da época. “A ideia de ver o sexo e as drogas como uma forma de ampliação da visão do mundo é uma coisa ainda muito única neste livro”, continua Walter, e esses elementos são todos fundamentais para essa fase de transição entre a juventude e a idade adulta, na qual há uma busca de identidade por todos os lados, refletida no livro com sua falta de objetividade e até pontuação.


É através dessa temática que o filme atraiu o grande elenco jovem. Walter conta que o ator Garret Hedlund, que interpreta Dean, foi de ônibus para o teste de elenco numa viagem que durou três dias e três noites. Nesta viagem, o ator escreveu um texto que “era uma escrita que pulsava tão próxima as cartas do personagem que nós ficamos convencidos que era possível achar um Dean”, completa o cineasta. Já a atriz Kristen Stewart entrou para o elenco, quando o compositor Gustavo Santaolalla, também de “O Diário de Motocicletas”, assistiu “Na Natureza Selvagem” e a recomendou para a personagem. Walter entrou em contato com a atriz que disse que ele estava falando “de seu livro de cabeceira e ela entendia como uma menina de 16 anos podia fazer tudo o que a Marylou fez naquele momento, naquele país com o moralismo vigente”, sendo uma pessoa a frente do seu tempo.


Em termos de fotografia, Walter buscou um estética, na qual “a câmera tenta pulsar junto com os atores, da mesma forma que o Kerouac usava a máquina de escrever como uma extensão de seu corpo. E o resultado disso é uma narrativa muito sensorial.” A fim de obter isso e capturar todo esse universo da geração Beat, Walter fez uma pesquisa extensa por oito anos, que culminará também em um documentário sobre o assunto.


E como o diretor espera a recepção do filme? “Espero que as pessoas voltem ao livro, e isso está acontecendo independente do filme.” Afinal, o movimento Beatnik também está de volta aos cinemas com filmes como “Howl” (2010), “Big Sur” (2012) e “Kill Your Darlings” (2013). “Por que alguma coisa volta assim à superfície anos depois? Porque de alguma forma encontra algum sincronismo com o presente”, e conclui. “É impressionante como hoje isso volta à tona, talvez pelo fato de que a gente precise novamente viver as coisas à flor da pele. A gente foi demais na outra direção e sem experimentar, como desenvolvemos uma visão critica do mundo?”
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