
O diretor argentino Pablo Trapero, acostumado a levar para a grande tela temas relacionados a problemas sociais portenhos, tem em Leonera (Argentina, 2008) a dura missão de abordar a maternidade dentro do sistema prisional. O um milhão de dólares gastos para a sua produção foram muito bem distribuídos, dando ao filme seu realismo necessário.
Ao acordar em seu apartamento, Julia (Martina Gusman) encontra dois corpos ensanguentados no chão, Nahuel e Ramiro (Rodrigo Santoro), este ainda vivo. Ela é levada então para uma casa de custódia onde aguardaria sua pena. No entanto, Julia está gravida de Ramiro. É impressionante a construção da personagem de Martina Gusman durante todo o filme. A linda e aparente saudável Julia dando lugar a prisioneira e mãe. Ramiro se recupera e começa então a peleja para solucionar o caso do assassinato de Nuhuel. Quem a matou?
O retrato seco da realidade das prisões femininas argentinas é feito em cenários reais. Entramos em contato direto com que se passa por detrás dos muros das penitenciárias de Olmos, de Los Hormos e de San Isidro. Todo o ambienta insalubre das celas e das galerias dá-nos a total dimensão do que se passa por lá. A impecável atuação da protagonista corrobora a ideia de que o meio em que vivemos influencia o que somos, ela se adapta a nova realidade.
Para fazer o espectador refletir sobre os direitos de criação de mães prisioneiras, surge a personagem Sofía – mãe de Julia – que irá brigar pela guarda da criança. De um lado fica Martha – prisioneira e amiga de Julia – que dá apoio ao direito da mãe criar seu filho e do outro, Sofía tentando convencer que o melhor para criança é viver num ambiente saudável, higiênico e longe das drogas. Ao fim, ficamos com a questão: quem tem razão? O direito é de quem? Tudo é uma questão de interpretação.
Leonera, ao abrir o Festival de Cannes de 2008 causou inúmeras críticas positivas ao trabalho de Trapero. Não é para menos. É um filme cujo tema é duro, pesado, difícil, mas que o diretor soube abordar sem nos causar náuseas.