
Confesso que Hirokazu KoreEda é um de meus diretores favoritos. Graças ao filme “Ninguém Pode Saber” conheci o cinema asiático em 2008, surgindo às primeiras estruturas do que em pouco tempo se tornaria uma paixão. Todos os longas do diretor são inspiradores para futuros cineastas, abusando da sensibilidade, com histórias em tons melancólicos e introspectivos, sempre trazendo questões existenciais. Esse estilo de fazer cinema perpetua vários diretores japoneses, provavelmente originando-se no genial Yasujiro Ozu (Pai e Filha). No entanto, KoreEda se destaca pelo estilo documentarista em fazer ficção, dando um sentimento bem mais “palpável” as suas histórias. Portanto, para fechar o ano com chave de ouro: trago a vocês Tão Distante (Japão, 2001).
Baseado em fatos reais, a história conta o caso em que mais de cem pessoas foram assassinadas pela seita religiosa Arcos da Verdade. Três anos após o massacre, quatro amigos que são também parentes de vítimas iniciam uma peregrinação em direção ao lago em que tudo ocorreu. Ao chegarem, os amigos conhecem um homem que esteve presente com os assassinos quando o massacre teve início. Ao ouvir seus relatos, a busca dos colegas muda de rumo.
Ao contrário do Ninguém Pode Saber, que recria os acontecimentos trágicos pela perspectiva das quatro crianças órfãs, aqui Koreeda prefere seguir unicamente pelo caminho sentimental de cada personagem. Ou seja, a premissa praticamente não tem importância, mas sim como os personagens se sentem em relação aos eventos trágicos que tiveram com seus entes queridos. Como lidar com a perda daquele familiar? Por que as coisas precisam acontecer dessa forma? Flashbacks com as memórias deles são mostradas, mas é impossível dar um sentido completamente uniforme para as cenas, o espectador que terá de decifrar as entrelinhas do que aquele personagem diz durante suas lamentações.
Fora isso, todos os elementos do cinema de Hirokazu estão aqui: a fotografia é belíssima, mesmo contando com evidente baixo orçamento, usando poucas locações; as atuações soam bem naturais para nós, ocidentais, o que vai na contramão do cinema asiático em geral; além do uso de planos longos e parados. Infelizmente esta rosa tem alguns espinhos: sendo indicado para poucos (diria que muito poucos), por ser um dos mais indecifráveis da carreira de Hirokazu, que parece superestimar a inteligência de quem assiste. 90% de nós ocidentais dormirão ao longo da história.
Como dito anteriormente, nada é inteiramente explícito, o que exige do espectador um longo questionamento interno sobre todas as nuanças do filme, sendo necessário repetir uma mesma cena várias vezes, ou assisti-lo inteiramente mais de uma vez para ter total compreensão. Não só o que é dito, mas como é dito também faz parte da mensagem, sendo mais um ponto herdado do cinema de Ozu, e também passível de novas interpretações a cada análise. Como nada em exagero é bom, a maioria dos cinéfilos enxergarão este filme como excessivamente indireto, frustrando um pouco pela falta de sentido que damos as cenas. Tão Distante não está entre os melhores filmes de Hirokazu Kore-Eda, considerando a genialidade do diretor. Mesmo assim, quem ama um cinema cult, filosófico, poético e indireto precisa assistir. Koreeda provavelmente ficará na eternidade do cinema japonês.