quarta-feira, 8 de maio de 2013

Como encontrar um mestre?

Com enormes simplicidade e força, Philippe Falardeau constrói uma obra singular em O que traz boas novas ("Monsieur Lazhar", 2001, Canadá). Adaptando a peça “Bashir Lazhar”, da autora Evelyne de La Chenelière, o filme nos propõe uma caminhada sensível e ativa bem mais questões do que respostas. Trata-se de um exercício de reflexão tão avassalador quanto suave em uma ótima comédia dramática.


A história se forma em uma escola pública de Montreal. Quando o pequeno Simon (Émilien Néron) deixa sua turma durante o recreio para separar as merendas, depara-se com a professora enforcada no centro da sala. A situação traumática comove toda a comunidade escolar. Enquanto a direção ainda procura formas de lidar com o caso, um professor substituto se prontifica a assumir a turma desfalcada. Trata-se de Bashir Lazhar, um imigrante argelino que se comoveu com a tragédia. Rapidamente contratado, o educador se depara com uma situação extremamente complicada: cuidar de crianças (entre 11 e 13 anos) de outra cultura e que acabam de passar pelo maior trauma de suas vidas. Enquanto isso, Lazhar ainda tenta lidar com seus próprios fantasmas. A partir daí, uma trama envolvente e completa se desenrola. Ninguém sabe o que levou a professora a desistir da vida. Ninguém sabe, de fato, como as crianças foram afetadas. Com sobriedade, enfrentamos uma caminhada realista, com personagens muito bem formados e intrigas bastante honestas.


Esse argumento poderia render "só mais um drama". Felizmente estamos tratando de um trabalho muito bem feito. O longa se desenvolve bem do silêncio aos gritos e nos energiza com atuações precisas de crianças com uma maturidade estimulante. Além disso, é conduzido pela voz adulta de um homem que argumentou com suas próprias dores e vê na tragédia uma chance de crescer em comunhão e dissecar tabus. Nesse ínterim, é modelada uma estrutura completamente avessa ao clássico maniqueísmo. Não existem conclusões óbvias e talvez nem mesmo conclusões, mas sim a mobilização e compreensão empática. Tudo isso arrumado em uma fotografia simples, mas assertiva, e uma trilha suficientemente sentimental, que comove, mas inibe qualquer possibilidade de dramatização cruel.


O que traz boas novas é uma peça rara de comoção e sensibilidade, que não brinca com os sentimentos do espectador, mas os garimpa. O trabalho é extremamente bem feito e consegue poetizar sem apelar para qualquer magia. Além disso, a obra volta a destacar a responsabilidade e dificuldade que existe embutida no papel de educador, polemizando, ainda, com naturalidade, pontos decisivos da educação e ensino às crianças.

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