Já se foi o tempo em que as ficções científicas americanas eram sinônimo de público, entretenimento despreocupado para as tardes de domingo e alguma garantia de inovação tecnológica. O ocaso do cinemão de Hollywood pode ser traduzido, em parte, pelo declínio vertiginoso da qualidade dos filmes e o esgotamento da fórmula que consolidou a estrutura dos blockbusters. Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles (Battle: Los Angeles, Eua, 2011) é a mais nova (e pífia) tentativa de alavancar um gênero que já parece morto em terras ianques – o cinema catástrofe e, mais precisamente, o subgênero da invasão de extraterrestres.
Pasmem, os Estados Unidos estão sendo invadidos por forças militares oriundas de algum planeta desconhecido, e cabe a um “marine” – ou fuzileiro naval, como preferirem – conduzir um grupo de soldados responsável por resgatar sobreviventes e combater a ameaça inesperada recheada de poderio tecnológico e força de combate superior aos inocentes e desprevenidos terráqueos. O “marine” da vez é o Sargento Michael Nantz (Aaron Eckhart), um ex-combatente do Iraque que, às vésperas de sua aposentadoria, é destacado para comandar um batalhão e, naturalmente, salvar a América e o mundo.
Eis que, dividido pela responsabilidade de capitanear outros “marines” – todos corajosíssimos e resilientes, na mais nova empreitada de “proteção à pátria” do Exército Americano, e pelo peso da culpa de ter perdido alguns outros bravos soldados em solo iraqueano, Nantz vê-se em meio ao caos que é a iminente destruição de Los Angeles pelas forças extraterrestres – mas, como manda o figurino que lhe cabe, apóia-se na moral e na honra para, mais uma vez, eliminar o perigo e expulsar os visitantes indigestos.
Pois, mesmo muito depois de a fórmula do herói americano já ter cansado para além da conta, Hollywood nos entrega – dessa vez sob a batuta de um diretor sul-africano (Jonathan Liebesman) – mais um exemplar da tragicômica jornada do patriota temente a Deus e subserviente à ideologia de Tio Sam. Mais: com um pendor para a cafonice calcada em diálogos que beiram o constrangimento, “Invasão do Mundo” explode as barreiras do ridículo e apóia-se nos mais passionais lugares comuns para tentar, de alguma forma, entreter.
Parece que, enfim, a ficção científica americana encontrou seu rumo ladeira abaixo. Nem um considerável investimento em efeitos especiais foi capaz de garantir qualquer verossimilhança e emoção a um filme sem absolutamente nenhuma alma. Não é apenas o cansaço acumulado ante às fórmulas pré-prontas e os roteiros cozinhados em banho-maria eterno – é a indignação ao reparar que, mesmo quando ainda há algum produtor alucinado que seja capaz de financiar um projeto caro e trabalhoso, Hollywood consegue reinventar-se. O tempo da mudança, latente, foge pelos céus. Que não encontre, pelo caminho, uma horda de OVNI’s sedentos de sangue.
